quarta-feira, 18 de maio de 2011

Perda de caixa preocupa indústria da construção

Daniela D'Ambrósio e Fernando Torres | De São Paulo

18/05/2011

Quatro anos depois de as construtoras terem invadido a bolsa brasileira em busca de recursos para financiar seu crescimento, os investidores começam a querer ver a cor do dinheiro.

PDG, Gafisa, Cyrela, MRV, Rossi, Brookfield, Even, Eztec, Viver e JHSF, as dez incorporadoras imobiliárias que compunham o índice do setor na bolsa (Imob) até abril, tiveram lucro somado de R$ 8,5 bilhões desde 2008 até março deste ano. No mesmo período, a "queima de caixa" dessas companhias foi de R$ 14,4 bilhões. Se for desconsiderada a captação por meio de emissão de ações, a perda de caixa seria ainda maior, de R$ 20 bilhões.

O ciclo longo e o crescimento acelerado do setor contribuem para a diferença entre lucro contábil e entrada de caixa, fazendo com que os gastos com novos projetos superem os valores recebidos por imóveis vendidos no passado.

Ainda que os investidores entendam essa peculiaridade, já há uma certa ansiedade no ar. O assunto "geração de caixa" apareceu com frequência inédita nas teleconferências de resultados e nos comentários dos executivos do setor sobre o primeiro trimestre.

Empresas como PDG, Cyrela, Rossi e MRV prometem que a queima terá fim a partir da metade deste ano ou início de 2012. "Essa é a grande questão do setor. Investidores do mundo inteiro só falam nisso", disse ao Valor Rubens Menin, presidente da MRV.

Enquanto o caixa operacional não aparece, o nível de endividamento cresce, com a dívida líquida das dez empresas analisadas atingindo R$ 13,7 bilhões em março, o equivalente a quase 50% do patrimônio líquido.

Essa situação tem reflexos na bolsa. Entre as empresas do setor, as ações de JHSF e Eztec, que possuem a melhor posição de caixa, são as que apresentam maior alta no ano, de 31% e 22%, respectivamente, enquanto boa parte das rivais registra desvalorização. O dilema das construtoras não é novo no mundo empresarial: continuar crescendo e sacrificar a lucratividade ou acelerar menos e melhorar os resultados. A escolha se dá no momento em que o Sindicato da Habitação informa queda de 61,8% nas vendas de unidades na capital paulista em março, ainda que os balanços trimestrais mostrem melhora nas vendas.

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