segunda-feira, 23 de maio de 2011

Operação de CDS poderá ser maior vítima de um calote da dívida grega

Valor Econômico - São Paulo/SP - FINANÇAS - 23/05/2011 - 01:04:19

 

David Oakley e Tracy Alloway | Financial Times

 

 

De certa forma, a Grécia poderá se vingar dos especuladores que, segundo políticos, foram os culpados pelo agravamento da crise da dívida do país. Se os líderes da zona do euro seguirem adiante com as propostas de ampliar os prazos de vencimento dos bônus gregos em uma reestruturação "branda" ou voluntária da dívida, os operadores de swaps de defaults de crédito (CDS) poderão ser uma das principais vítimas.

 

Os CDS soberanos, que seguram os investidores contra o risco de um default nos bônus, estão enfrentando um momento crítico de sua curta história. Os primeiros negócios com CDS soberanos foram realizados há cerca de 10 anos. O teste em relação ao pagamento desses seguros poderá ser realizado em breve.

 

Uma reestruturação voluntária da dívida grega, ou "reperfilamento", conforme os planejadores econômicos da União Europeia estão descrevendo o processo, poderá minar o valor intrínseco da compra de derivativos porque tal reestruturação provavelmente não equivaleria a um chamado "evento de crédito". Isso significa que os bancos e os investidores que compraram proteção de CDS contra uma eventual reestruturação não receberiam nada como recompensa por eventuais perdas com os juros devidos ou o principal investidos nos bônus gregos. Um não pagamento levantaria dúvidas sobre a utilidade de instrumentos financeiros bastante demandados ao longo do último ano, na medida em que os bancos lutam para se proteger contra um default.

 

O custo da compra de proteção contra um default grego passou para 1.318 pontos-base, ou US$ 1,3 milhão para a securitização de cada US$ 10 milhões de dívida ao ano por um período de 5 anos - contra 641 pontos-base neste mesmo período do ano passado.

 

A discussão na reunião da semana passada dos ministros das Finanças da União Europeia (UE), em que o "reperfilamento" pareceu ganhar força, deixou preocupada alguns gestores de fundos de hedge. "Qual é o sentido de eu comprar CDS gregos se não serei pago? Isso poderá matar o mercado enquanto ele ainda está em sua infância", diz o diretor de dívida soberana de um dos maiores fundos de hedge da Europa. De fato, firmas de advocacia de Londres estão sendo inundadas de consultas de fundos de hedge e bancos, que querem saber como eles ficariam na eventualidade de uma reestruturação voluntária.

 

Gregory Venizelos e Rajeev Shah, analistas do BNP Paribas, disseram a investidores no mês passado: "Nossos especialistas em CDS acreditam que se houver uma reestruturação voluntária os CDS não serão acionados, invalidando assim um spread muito grande". Então, o que exatamente constituiria um evento de crédito ou acionaria um pagamento?

 

Para os bônus soberanos, um evento de crédito é definido pela International Swaps and Derivatives Association (ISDA) como uma incapacidade de quitar um pagamento de juro ou do principal, uma reestruturação que muda os termos de um acordo, ou a moratória de uma dívida. Os precedentes são muito poucos. Advogados dizem que um dos modelos para um pagamento de CDS soberano aconteceu no Equador, depois que o país deu calote em um de seus bônus em 2008. A ISDA pôde decidir que o default foi um evento de crédito e iniciou um leilão de recuperação.

 

Todavia, uma reestruturação grega provavelmente não levaria ao mesmo resultado. Em último caso, a decisão está nas mãos de oito dos maiores bancos do mundo e alguns dos maiores fundos de hedge. Eles são membros votantes do chamado comitê de determinações, que se reúne sob os auspícios da ISDA e decide se uma reestruturação é ou não evento de crédito.

 

Se a Grécia ampliar os prazos de vencimento da dívida sem cortar o pagamento final do principal de um bônus, ou impor cortes aos investidores em uma reestruturação ou troca de bônus voluntárias, então o comitê provavelmente decidirá que não houve evento de crédito. Isso é importante porque, desse modo, bilhões de euros e pagamentos de bancos da zona do euro não seriam ativados. Isso evitaria uma crise no setor bancário europeu, mas deixaria aqueles que compraram a proteção de CDS com perdas. Se contratos forem considerados sem valor, o mercado poderá secar.

 

Mas muitos banqueiros acreditam que o mercado de CDS soberanos sobreviverá, apesar desse risco. Eles afirmam que o mercado vem sendo remoldado pelos acontecimentos na Grécia. A maioria dos participantes é formada agora por bancos expostos a possíveis perdas com a dívida grega e que querem se proteger desse risco, e não dos especuladores apontados pelos políticos. As equipes dos bancos responsáveis pelo "hedge" de riscos contra países como a Grécia respondem por pelo menos 60% dos negócios com CDS soberanos, afirmam eles. Além disso, reestruturações voluntárias são raras. Os investidores são pagos normalmente na eventualidade de um default. Na verdade, a maioria dos bancos e investidores acreditam que eventualmente serão pagos por se protegerem contra um default grego, porque eles acreditam que uma reestruturação voluntária será seguida por um reestruturação forçada em dois anos.

 

Isso pode ajudar a explicar por que os preços dos CDS gregos continuam aumentando. Os bancos também observam que o mercado de CDS gregos é pequeno, de modo que as repercussões do não recebimento de pagamentos provavelmente não seriam grandes. Os CDS gregos em circulação representam 0,3% do mercado de CDS. Paul Cluley, sócio da Allen & Overy, diz: "Os derivativos de crédito, enquanto meio de transferência de risco, são incrivelmente importantes para os bancos. Os bancos têm riscos com seus balanços que eles precisam proteger ou transferir. Sem os CDS, isso seria muito mais difícil".

 

 

 

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