segunda-feira, 27 de junho de 2011

Wealth do BTG quer ampliar atuação no mercado externo

Angelo Pavini | De São Paulo

Depois de recomprar o banco do suíço UBS, a área de gestão de fortunas, ou "wealth management", do BTG Pactual se prepara agora para ampliar suas operações no mercado internacional. Com escritórios em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio, a área conta com 90 pessoas, das quais 40 consultores e 25 gestores de recursos, e pode ser considerada uma das maiores do setor no país, com R$ 34 bilhões sob gestão. O valor representa um crescimento de R$ 20 bilhões em relação aos R$ 14 bilhões de 2009, quando o negócio com o banco suíço foi desfeito, lembra Renato Cohn, que coordena a área ao lado de Rogério Pessoa Albuquerque.

O duplo comando é uma das peculiaridades do "wealth" do BTG. Os dois começaram a trabalhar juntos em 1999, no então Pactual, e passaram juntos pela venda do banco e sua recompra pelos sócios brasileiros. Agora, com uma base sólida no país, a dupla quer ampliar os negócios no exterior. "Temos interesse grande na expansão no Chile, América Central, Estados Unidos e Europa, onde estamos presentes", diz Pessoa. Ele quer agora aproveitar o fato de "o Brasil estar na moda" lá fora, o que aumenta as consultas de estrangeiros sobre como e onde investir aqui.

Um passo importante será a expansão das atividades da corretora do BTG em Nova York. Hoje ela só pode operar com clientes institucionais, ou seja, fundações e fundos de investimento. "Pedimos licença para atender também pessoas físicas nos Estados Unidos", afirma Pessoa. Até o fim do ano, o banco poderá custodiar ativos nos EUA, facilitando a atuação com pessoas físicas. O BTG já tem uma equipe de "private banking" em Nova York para atender os clientes tanto dos EUA quanto da América Latina. "O passo seguinte será a Europa", afirma Cohn.

Um diferencial que o BTG pretende oferecer é o coinvestimento, em que o estrangeiro participará dos mesmos projetos nos quais os sócios do banco estão aplicando. "É uma forma de alinhar os interesses do banco e dos clientes", diz Albuquerque.

A ideia é também trabalhar a imagem de especialista em Brasil nos escritórios de Nova York, Los Angeles, Hong Kong e Londres, dizem os executivos. O alvo são clientes de altíssima renda ("ultra-high-networth") americanos, europeus e emergentes. Em geral, são investidores com mais de US$ 20 milhões para aplicar.

O interesse dos estrangeiros está em ações e no setor real da economia, como empresas de capital ainda fechado. Uma das vantagens do BTG é que o banco se tornou uma franquia global de gestão de recursos conhecida em importantes centros financeiros. "Temos um fundo hedge, o Global Emerging Markets and Macro, criado em 2009, e que já investe em vários países, com sete estratégias, como moedas, títulos e ações", afirma Pessoa. O fundo tem hoje U$ 2,3 bilhões.

A carteira recebe aplicações de um multimercado local para investidores brasileiros superqualificados (com mais de R$ 1 milhão) e que tem hoje um patrimônio de R$ 1,4 bilhão. "A gestão lá fora não é brasileira, usamos as equipes dos escritórios internacionais, que são especialistas nos mercados locais, para cuidar dos ativos", diz Pessoa.

Logo depois da crise de 2008, por exemplo, a equipe dos EUA aproveitou o baixíssimo preço das hipotecas para criar um fundo para comprar esses papéis na bacia das almas, conseguindo um excelente retorno, lembra o executivo.

Cohn admite que o IOF sobre aplicações de estrangeiros reduziu o fluxo de recursos para o país. "Hoje, só aplicações de três ou quatro anos valem a pena em renda fixa, mas nesse prazo o risco cresce muito, principalmente com a moeda brasileira tão valorizada", afirma. "Mas ainda vemos interesse estrangeiro pelo setor imobiliário e em empresas", diz.

No mercado local, o BTG Wealth vê grande interesse dos brasileiros por papéis de renda fixa isentos de imposto em seu rendimento, caso dos títulos ligados ao mercado imobiliário ou agropecuário. "Vemos muitos trocando CDBs por Letras de Crédito Agrícola (LCAs) ou por Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e alongando os prazos", explica Cohn.

Ao mesmo tempo, há uma saída dos fundos multimercados. "Com uma LCA rendendo 105% a 107% do CDI, os fundos multimercados precisam render 120%, 130% do CDI, senão não chamam a atenção", diz o executivo. "No longo prazo, os multimercados fazem diferença em termos de rentabilidade, mas o investidor só olha o curto prazo, e o desempenho dos gestores não foi bom recentemente.

A gestora está também sugerindo aumento nas aplicações em ações, aproveitando a queda do mercado. "No começo do ano, a economia americana estava mais aquecida e isso levou os estrangeiros para a bolsa de lá, deixando o Brasil, mas agora a situação mudou", diz Pessoa. As empresas brasileiras estão com bons lucros e seus papéis podem se recuperar no longo prazo, afirma. Outra opção são as notas estruturadas, em que o investidor recebe apenas uma parte do ganho da bolsa, mas tem a proteção do capital investido.

O banco criou também uma área de "family office", para atendimento mais amplo das famílias mais ricas, em outubro, que já conta com R$ 750 milhões de oito famílias. Cohn e Pessoa contam com a estrutura do BTG para oferecer mais serviços para os endinheirados. "Temos capacidade para ajudar clientes que queiram vender a empresa, abrir o capital ou fazer um planejamento patrimonial, além de uma assessoria financeira com a experiência de sócios do nível dos ex-Banco Central Pérsio Arida e Eduardo Loyo", afirma Pessoa. A área de fortunas do BTG tem como foco clientes a partir de R$ 3 milhões. "Mas nosso perfil médio é mais acima de R$ 20 milhões."

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