terça-feira, 15 de março de 2011

Cyrela despenca após reduzir metas

Valor Econômico - São Paulo/SP - EMPRESAS CITADAS - 15/03/2011 - Daniela DAmbrosio e Ana Paula Ragazzi | De São Paulo

Os investidores reagiram mal ao anúncio feito pela Cyrela, que reduziu estimativas de lançamentos, vendas e margens neste ano e no próximo. O resultado foi a queda de 6,5% das ações ontem, a maior do Ibovespa, principal índice da bolsa paulista. O papel fechou cotado a R$ 15,15, menor valor desde julho de 2009.

A ação movimentou R$ 275,4 milhões, o terceiro maior giro da bolsa. A média diária de negócios com os papéis nos últimos 12 meses é de R$ 71,8 milhões.

No começo da noite de sexta-feira, a Cyrela informou que havia reduzido sua previsão para as vendas contratadas de uma faixa entre R$ 7,6 bilhões a R$ 8,4 bilhões em 2011 para R$ 6,9 bilhões a R$ 7,7 bilhões. Para 2012, as projeções desceram de um intervalo entre R$ 9,7 bilhões a R$ 10,7 bilhões para R$ 8 bilhões a R$ 8,9 bilhões.

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As previsões anteriores - de vendas, lançamentos e margens - foram feitas em novembro de 2009 e desde aquela época o mercado já julgava ousada a atitude da companhia de projetar, por um prazo tão longo, tantos números.

Considerando o ponto médio das faixas, redução para as vendas contratadas foi de 9% para 2011 e de 17% para 2012. Para a margem ebitda, a companhia projetava um intervalo entre 20% a 24% para 2011 e também em 2012. E agora reduziu para uma faixa entre 15% a 19% este ano e de 18 a 22% ano que vem.

Os analistas do Credit Suisse, Marcello Milman e Alexandre Queiroz, escreveram, em relatório, que a revisão em si não foi uma surpresa, mas a magnitude dela, sim.

"Em resumo, as novas estimativas mostram que a Cyrela está crescendo menos e com margens menores. Em nossa avaliação, isso sinaliza alguns problemas estruturais em sua estratégia de expansão baseada em parcerias, que parecem estar afetando a rentabilidade", afirmaram. "Mais do que isso, acreditamos que esses problemas não parecem ser simples de resolver, o que pode levar a novas reduções de projeções", avaliam. Os analistas acreditavam que, até o fechamento de sexta-feira, apesar de a ação da Cyrela acumular perda de 26% no ano, ainda assim não estava a valores que chamavam a compra, uma vez que a empresa é negociada com prêmio entre 10% e 15% em relação a seus pares.

Procurada, a Cyrela informou estar em período de silêncio por conta da divulgação do balanço, agendada para dia 28 de março e não concedeu entrevista. Inicialmente, o anúncio dos resultados estava previsto para hoje.

Os analistas Guilherme Vilazante e Vinicius Mastrorosa, do Barclays, lembraram que a Cyrela sempre foi negociada com prêmio em relação às concorrentes por conta de sua boa reputação em termos de execução e das margens superiores, e que, após anúncio, essa reputação que embute o prêmio tende a acabar.

"A ação poderá ter uma fraca performance se os investidores adotarem uma postura de esperar para ver em relação ao papel. Se for assim, a empresa terá de apresentar alguns trimestres de bons resultados até que a ações recuperem terreno", escreveram os analistas do Barclays.

O Barclays diz que, de certa forma, o anúncio é bem visto porque já há alguns dias o mercado esperava por ele e a incerteza em relação aos novos números já havia provocado a saída de alguns investidores do papel.

Para os lançamentos, a companhia informou que reduziu sua previsão neste ano de uma faixa de R$ 8,3 a R$ 9,1 bilhões para um intervalo entre R$ 7,6 bilhões a R$ 8,5 bilhões. Para 2012, a estimativa passou de um valor entre R$ 10,5 bilhões e R$ 11,5 bilhões para R$ 8,7 bilhões a R$ 9,8 bilhões.

A queda das ações da Cyrela foi tão expressiva que a companhia - líder do setor até o ano passado - ficou atrás da MRV, empresa mineira que atua na baixa renda. Foi a primeira vez que a companhia ficou na terceira posição em valor de mercado entre as abertas. A PDG Realty, que assumiu a liderança após a compra da Agre, fechou ontem com queda de 0,32% e valor de mercado de R$ 10,343 bilhões. A MRV ficou estável, avaliada em R$ 6,498 bilhões e a Cyrela fechou o dia valendo R$ 6,408 bilhões.

Fontes do setor defendem que não se trata de uma tendência ou um problema generalizado. Embora o mercado aponte para um ano mais lento em termos de velocidade de vendas e com pouco espaço para alta de preços. Por enquanto, apenas Rodobens e CCP - braço de imóveis comerciais da própria Cyrela - divulgaram resultado. As prévias operacionais apontam setor ainda aquecido.

Os problemas da Cyrela começaram a aparecer no último trimestre do ano passado, quando a companhia teve que colocar no mercado mais empreendimentos do que havia lançado o ano inteiro. Conseguiu, mas enfrentou um mercado bastante concorrido.

Internamente, a companhia também vive momento delicado. Segundo o Valor apurou, a Cyrela acaba de criar o cargo de vice-presidente financeiro e escolheu José Florêncio Rodrigues Neto para ocupá-lo. O executivo, que esteve no grupo Camargo Correa por nove anos, e sua última função foi diretor financeiro da divisão de engenharia e construção, começou na Cyrela há um mês. Vai se reportar diretamente a Elie Horn e irá coordenar o processo de planejamento financeiro e de resultados. Luis Largman, diretor financeiro e de relações com investidores, fica abaixo de Rodrigues, o que teria gerado desconforto.

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