quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Leasing Vai Somar Dívida de US$ 2,2 Trilhões em Balanços

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Leasing vai somar dívida de US$ 2,2 trilhões em balanços

Não há mais como adiar. Depois de mais de dez anos de discussões intermináveis, o órgão que edita as normas contábeis internacionais IFRS, adotadas no Brasil, publica hoje um pronunciamento que vai obrigar que as empresas registrem como dívida em seus balanços US$ 2,18 trilhões em contratos de leasing operacional que hoje são divulgados apenas em notas explicativas.

Se há algum consolo é que a nova norma se tornará obrigatória apenas em 2019, o que deve dar tempo para as empresas adaptarem seus sistemas e, principalmente, educarem os investidores sobre a novidade.

Levantamento feito pelo Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb, na sigla em inglês) com base de dados de 30 mil empresas pelo mundo indica que há um total de US$ 2,86 trilhões em contratos de arrendamento que estão fora do balanço, com valor presente estimado de US$ 2,18 trilhões.

Embora o efeito seja gigantesco, ele será bastante concentrado, com apenas 1.022 empresas sendo responsáveis por 76% desse novo passivo, ou US$ 1,66 trilhão.

Conforme estimativas do Iasb, os segmentos de aviação, varejo e viagem e lazer devem ser aqueles com maior impacto proporcional quando se compara o valor dos futuros pagamentos e o total de ativos. Haverá exceção de adoção da regra apenas para leasings de pequenos valores e para contratos de menos de 12 meses.

No Brasil, a empresa com maior impacto deve ser, com folga, a Petrobras, que divulgou em notas explicativas do balanço do terceiro trimestre ter R$ 417 bilhões em pagamentos mínimos de arrendamento operacional.

A companhia não deixa claro, contudo, se todo esse valor é "não cancelável" - já que é apenas essa parcela que passará a ser tratado como passivo quando a nova regra estiver em vigor - e nem calcula o valor presente desses compromissos, sendo que, desse total, R$ 232 bilhões são obrigações que vencem de 2020 em diante.

Para efeito de comparação, a dívida bruta que já está devidamente contabilizada no balanço da Petrobras somava R$ 506 bilhões em setembro do ano passado.

Além da Petrobras, empresas de aviação como Latam e Gol também devem ser bastante afetadas, embora elas já deem destaque a esses compromissos "fora do balanço" quando apresentam seus resultados, normalmente apresentando como dívida a despesa anual de leasing multiplicada por sete ou oito anos. Em setembro, a Latam tinha R$ 10,7 bilhões em leasing operacional divulgado em nota explicativa, para uma dívida contabilizada de R$ 35 bilhões, enquanto a Gol tinha arrendamento operacional de R$ 7,6 bilhões, para uma endividamento formal de R$ 9,5 bilhões.

Grandes varejistas também estão entre aquelas que terão que rever seus registros contábeis, uma vez que contratos de aluguéis de longo prazo que prevejam pagamentos mínimos e multas de rescisão também são enquadrados como arrendamento.

Petrobras divulga em nota arrendamentos de R$ 417 bilhões, mas nem todo esse valor deve entrar como passivo

Em termos de registro contábil, as empresas terão que passar a tratar o leasing operacional da mesma forma que lidam com o leasing financeiro, que é considerado hoje uma forma de financiamento de compra de um bem.

Os compromissos futuros com pagamentos a valor presente são registrados como passivo e o bem, ou direito de uso dele, fica contabilizado como ativo.

Para um contrato novo ou para as empresas que optarem pela alternativa de não fazer um ajuste retrospectivo do balanço, o impacto imediato da nova norma no patrimônio líquido é nulo.

A diferença em termos de lucro antes de impostos deve ser apenas temporária, com despesas maiores na primeira metade do prazo do contrato e menores depois, em vez do gasto linear que existe hoje. Já o lucro operacional e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) devem ficar maiores com a nova regra.

Isso porque o gasto com arrendamento vai sair da linha de despesa operacional e passará a ser repartido entre depreciação e despesa financeira.

As duas linhas são descontadas no cálculo do Ebitda, e a segunda não entra na aferição do lucro operacional, o que deve jogar para cima esses indicadores.

Essa diferença na demonstração de resultados, aliás, é um dos pontos que o Iasb destaca como positivos com a adoção da nova regra contábil a partir de 2019.

Não porque vai elevar essas medidas de resultado, mas porque facilita a comparação entre uma empresa que compra um ativo financiado e outra que opta pelo arrendamento - hoje a primeira fica mais endividada, mas com Ebitda maior e vice-versa, o que pode levar a conclusões erradas por parte dos usuários.

O Iasb afirma que investidores mais sofisticados, bancos e agências de classificação de risco já faziam ajustes quando analisavam os balanços de empresas com contratos de arrendamento relevantes, o que leva a entidade a crer que não haverá crescimento generalizado do custo de capital.

Se houver alguma elevação, diz o Iasb, isso vai decorrer de uma melhor tomada de decisão do credor, "diante da maior transparência sobre a alavancagem financeira da companhia".

 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Incorporadoras Devem Enfrentar Novo Ano de Retração

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Incorporadoras devem enfrentar novo ano de retração

O setor de incorporação começa 2016 diante de um cenário ainda desafiador em relação à crédito imobiliário, às incertezas quanto aos rumos da política e à perspectiva de nova retração do Produto Interno Bruto (PIB). O ambiente se reflete na demanda retraída por imóveis e em patamares elevados de distratos e estoques. Há pouco estímulo para ousadia na tomada de decisão de lançamentos pelas incorporadoras. A melhor das hipóteses, segundo analistas ouvidos pelo Valor, é que o volume de lançamentos e vendas fique semelhante ao de 2015, mas a avaliação mais recorrente é que outra retração poderá ocorrer.

"O ano de 2016 será muito difícil. Vamos tentar achar alternativas para escoar os estoques", afirma o presidente do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, Claudio Bernardes. Na cidade de São Paulo - maior mercado imobiliário do país -, o volume de lançamentos e vendas de unidades novas residenciais recuou, em 2015, para os mais baixos níveis em mais de uma década, segundo o Secovi-SP, ficando inferiores a 2004, quando marcos regulatórios do setor, como o patrimônio de afetação, foram definidos.

"Os juros aumentaram, a oferta de crédito diminuiu, e há falta de confiança do consumidor", diz o presidente do Secovi-SP.

Na avaliação de Bernardes, o setor pode "começar a andar, no fim de 2016, se houver uma solução razoável para o impasse político e institucional". O Sindicato da Habitação estima que, no consolidado do ano passado, foram lançadas 21 mil unidades na capital paulista, 38% abaixo do volume de 2014 e vendidas 17,3 mil unidades, com retração de 20%. Para efeito de comparação, em 2004, os lançamentos somaram 22.550 unidades, e as vendas atingiram 20.183 unidades.

Considerando-se o desempenho nacional e somente das incorporadoras de capital aberto, 2015 foi o quarto ano consecutivo de encolhimento do setor. A piora das condições de crédito - uma das principais razões para a retração do setor, no ano passado, e para que a perspectiva de queda de distratos ficasse mais distante -, começou em maio. Já na largada de 2016, o crédito está mais caro e restrito do que no início de 2015.

De janeiro a outubro, o volume de vendas de imóveis superou o de lançamentos, segundo o índice Abrainc-Fipe

O volume consolidado de entregas de imóveis tende a ser menor do que no ano passado, o que pode contribuir para a redução absoluta dos distratos. Mas a participação relativa dos cancelamentos de vendas no total dos projetos continuará alta, tanto pela negação de crédito por bancos para uma parcela dos compradores, no repasse, quanto pela decisão de uma fatia dos clientes de não se manter endividados neste cenário de baixa confiança frente ao maior risco de desemprego.

De janeiro a outubro, o volume de vendas de imóveis superou o de lançamentos, conforme dados do índice Abrainc-Fipe. Nos dez meses, foram lançadas 45,2 mil unidades e vendidas 89,4 mil. O índice Abrainc-Fipe foi desenvolvido pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e considera informações de 18 incorporadoras.

Nas reuniões públicas realizadas no fim do ano, o tom predominante das incorporadoras, ao comentar sobre lançamentos, era de cautela, e as empresas evitavam projeções. A busca de redução de estoques continua a ser o foco, assim como a revenda das unidades distratadas e a tentativa de evitar novos cancelamentos, por meio de medidas como a oferta de financiamento direto.

A PDG Realty - que possuía a maior alavacangem do setor no fim de setembro, com relação dívida líquida sobre patrimônio líquido de 127% no fim de setembro - informou que voltará a lançar projetos quando o mercado permitir. A Rossi Residencial sinalizou intenção de retomada de lançamentos no fim deste ano ou no início de 2017. A Tecnisa divulgou que será uma empresa de R$ 1 bilhão por ano no próximo ciclo de lançamentos, mas deixou claro que esse tamanho não será alcançado em 2016.

Em meados de dezembro, o diretor financeiro e de relações com investidores da EZTec, Emilio Fugazza, disse que a companhia só voltaria a lançar empreendimentos "com mais intensidade" em dois anos. Segundo Fugazza, há projetos para lançamentos, em 2016, superiores aos de 2015, se a empresa reduzir estoques e se houver estabilidade política. Para ter ritmo maior de novos projetos, a EZTec precisa vender, trimestralmente, de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões em estoques.

A Cyrela informou que seu tamanho tem de se adaptar às dimensões do mercado, mas que o volume de lançamentos deve ser mantido em São Paulo. A Even afirmou que vai buscar equilíbrio entre lançamentos e venda de remanescentes, mas que isso ainda não ocorrerá em 2016. Não há expectativa, na Even, que o ano seja de recuperação do setor.

A Helbor estima lançar de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão em 2016 (incluindo a parte dos sócios nos empreendimentos), ante os quase R$ 500 milhões que esperava para o consolidado do ano passado, mas não tem projeção oficial e depende do mercado para de fato apresentar os empreendimentos. Também sem meta oficial, a Gafisa divulgou que lançará de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão no ano, somente na divisão de mesmo nome, sem incluir a Tenda. Já a MRV Engenharia avalia que lançamentos e vendas ficarão em linha com os de 2015.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Rodobens Negócios Imobiliários, Flavio Vidigal De Cápua, a companhia só vai lançar produtos se tiver "boa segurança do índice de comercialização e de que haverá boa aceitação". "Temos capacidade para R$ 1 bilhão por ano, mas não adianta lançar sem ter mercado", diz. A Rodobens não chegará a esse patamar e 2016, quando deve lançar mais produtos de loteamentos do que de incorporação.

Para reforçar a geração de caixa, outra prioridade do setor, algumas companhias apostam também na venda de ativos, como terrenos e participações em projetos. PDG tem, em curso, negociações para comercializar a empresa de shopping centers REP. Entre os ativos da Rossi à venda, está a loteadora EntreVerdes. No terceiro trimestre, a Tecnisa reduziu sua participação no bairro planejado Jardim das Perdizes, e a PDG saiu do projeto.

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Brookfield Avalia Ativos no Mercado Imobiliário e em Infra

http://exame.abril.com.br/economia/noticias/brookfield-avalia-ativos-no-mercado-imobiliario-e-em-infraestrutura

Brookfield avalia ativos no mercado imobiliário e em infra | EXAME.com

São Paulo - A gestora canadense Brookfield, que está prestes a concluir a aquisição da fatia de 24,4% da empreiteira OAS na Invepar, avalia a compra de mais ativos no Brasil.

Além da participação no consórcio que controla o aeroporto de Guarulhos, a gestora estuda outros negócios envolvendo infraestrutura, como energia e concessões, e também prédios comerciais, apurou o jornal O Estado de S. Paulo com fontes próximas à operação.

Com forte apetite por ativos brasileiros, a Brookfield mantém conversas para fechar novos negócios já no início de 2016.

"O braço de private equity (que compra participações em empresas) da gestora também está prospectando oportunidades no país", disse uma fonte a par do assunto.

O ano que termina foi marcado por importantes aquisições da gestora canadense no mercado brasileiro.

Após se comprometer neste mês a comprar a participação da OAS na Invepar por R$ 1,35 bilhão, a Brookfield espera o fechamento do negócio, condicionado à realização de um leilão no fim de janeiro (em que a gestora terá direito de preferência, caso algum concorrente ofereça valor maior) e à aprovação do restante dos fundos de pensão acionistas da concessionária - Petros (da Petrobrás), Funcef (da Caixa) e Previ (do Banco do Brasil).

Em novembro, a Brookfield, por meio do consórcio TCL, venceu um leilão para a compra de um lote de 11 linhas de transmissão de energia em Minas Gerais, que engloba 1.323 quilômetros e nove subestações.

A oferta foi de R$ 448,8 milhões. As instalações servirão para aumentar a confiabilidade ao atendimento elétrico no leste do estado, que concentra uma das mais importantes regiões produtoras de minério e siderurgia do Brasil, conhecida como Vale do Aço.

Brasil no radar

Em maio deste ano, a gestora canadense informou ter US$ 2 bilhões para investir no país na área de infraestrutura até o fim de 2016. Apesar da instabilidade na economia, a matriz afirmou, à época, que considerava os ativos no país mais baratos e que havia oportunidades de negócios interessantes para a companhia.

Maior operadora independente de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no Brasil, a Brookfield concluiu, em julho passado, a compra de duas PCHs, por R$ 390 milhões, que pertenciam à EDP Energias do Brasil.

Em dezembro de 2014, a gestora canadense já tinha anunciado a aquisição de ativos de geração da Energisa, negócio que foi concluído em março deste ano, por R$ 2,12 bilhões. Novas aquisições nesta área não estão descartadas.

No mercado imobiliário, a Brookfield também protagonizou este ano importantes aquisições.

A gestora comprou por cerca de R$ 2,1 bilhões sete prédios comerciais em São Paulo, entre eles duas torres comerciais do Shopping JK, e Rio de Janeiro que pertenciam à BR Properties, da qual o BTG Pactual era um dos principais acionistas, mas está se desfazendo de sua fatia.

No início do ano, Brookfield e BTG chegaram a fazer uma oferta para a compra do controle da BR Properties, mas a proposta não avançou. A Brookfield optou pela compra dos imóveis comerciais que pertenciam à BR Properties.

Já o BTG começou a se desfazer há um mês de boa parte dos seus ativos, depois que seu fundador, o banqueiro André Esteves foi preso por suspeita por tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato, que investiga corrupção na Petrobrás. Esteves foi solto na semana passada.

Estratégia global

A Brookfield quer replicar parte de seu modelo de negócios no Brasil. Com cerca de US$ 200 bilhões em ativos em todo o mundo, a América do Sul responde por cerca de 10% desse total e deverá crescer sua participação, se depender dos negócios que estão em andamento no Brasil.

No relatório de 2014 da Brookfield, a gestora tinha cerca de R$ 35 bilhões em investimentos no país e presença em 14 Estados.

As áreas de real state (imóveis), infraestrutura e energia renovável) estão entre os maiores aportes da Brookfield no Brasil.

"O apetite da companhia não acabou com os nossos recentes anúncios. Há interesse do grupo em participar de mais leilões (de energia), avançar em infraestrutura e real state", disse uma fonte a par do assunto.