terça-feira, 1 de março de 2011

Construtoras balançam com corte de R$ 5 bi

Valor Econômico - São Paulo/SP - COLUNISTAS - 01/03/2011 - 01:03:09

Daniele Camba

 

Quem imaginava que o ajuste fiscal de R$ 50 bilhões não passaria por áreas prioritárias do governo se surpreendeu com o anúncio de ontem de um corte de R$ 5 bilhões no programa Minha Casa, Minha Vida. Da previsão inicial de R$ 12,6 bilhões para este ano, o programa de habitação subsidiada para o público de baixa renda passará a ter apenas R$ 7,6 bilhões.

 

A notícia caiu como uma bomba entre as ações de construtoras. O Índice Imobiliário (Imob) - formado pelos principais papéis do setor - caiu ontem 1,14%, ante uma alta do Índice Bovespa de 0,72%, aos 67.383 pontos.

 

Das empresas que possuem ações listadas em bolsa, as que mais sofrem com a decisão do governo são a MRV e a PDG, já que são as duas construtoras mais focadas no segmento de baixa renda. As ações ordinárias (ON, com voto) da MRV caíram ontem 5,30% (a maior queda do Ibovespa) e as ON da PDG, 1,08%.

 

No entanto, o massacre entre as construtoras ontem foi geral. As ON da Cyrela Realty caíram 2,64% e as ON da Rossi Residencial, 2,27%. Apesar de não atuarem nas classes mais baixas, os papéis dessas companhias sofrem por tabela, já que possuem bastante liquidez.

 

"Na dúvida, o investidor prefere não ficar olhando quem sofre e quem não sofre e sim reduzir logo a exposição no setor", diz o gerente da mesa de operação da HSBC Corretora, Frederico Soares.

 

Ele lembra que as construtoras já vinham caindo, como reflexo do processo de alta da taxa de juros e das medidas macroprudenciais para conter a inflação. "Até então, as ações da MRV e da PDG não se desvalorizavam tanto, exatamente na expectativa da segunda edição do programa Minha Casa, Minha Vida, que alavancaria as vendas dessas construtoras", explica Soares.

 

O gerente da mesa acredita que, com o grande corte na segunda edição do programa habitacional, os papéis dessas construtoras de baixa renda devem cair até se igualarem ao desempenho do restante das ações do setor.

 

Investimento no setor de construção ainda é arriscado

 

Soares não acredita que as quedas acentuadas das construtoras representam uma oportunidade de investimento nesses papéis. "Ninguém sabe ainda quais serão as consequências da alta dos juros e das medidas macroprudenciais sobre as vendas das construtoras", diz o gerente da HSBC Corretora.

 

Ele acredita que, com esse cenário, as empresas devem reduzir projeções ("guidances") de resultados para os próximos trimestres e os analistas possivelmente rebaixarão os preços-alvo das ações.

 

Depois de cair quase 4% em janeiro, o Ibovespa fechou fevereiro com alta de 1,22%. O indicador chegou a cair até os 64.217 pontos, mas conseguiu se recuperar, voltando para a casa dos 67 mil pontos. Resta saber se, mesmo sem o investidor estrangeiro, a bolsa conseguirá ultrapassar os 70 mil pontos. Existem dúvidas.

 

Daniele Camba é repórter de Investimentos

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário