terça-feira, 31 de agosto de 2010

Overdose de fundos imobiliários?

Fonte: Valor Econômico

BTG Pactual estrutura cinco emissões com volumes de R$ 1 bilhão cada uma e mercado se pergunta se há demanda para tanto.

O BTG Pactual está deixando seus concorrentes com a pulga atrás da orelha. Só na última semana, o banco entrou com pedido de análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de quatro fundos imobiliários, cada um com volume de R$ 1 bilhão. São R$ 5 bilhões se somada uma outra carteira de R$ 1 bilhão, em análise desde junho. E tem mais BTG Pactual vindo por aí. Segundo fontes do mercado, a série contempla cerca de 15 fundos.

Por se tratar da estreia do banco, o tamanho das operações chama a atenção e chega a causar um certo desconforto no mercado. A grande questão é se há demanda para tudo isso, mas os especialistas apostam que sim. Hoje, o patrimônio dos fundos em operação soma R$ 5,9 bilhões. Em fase de registro ou captação, há cerca de R$ 9 bilhões, volume bem acima dos R$ 3,445 bilhões registrados em 2009.

“Chegar ao mercado com volumes grandes acaba causando um certo espanto”, afirma Alexandre Tadeu Navarro, da Navarro Advogados. Mas não é só isso. A investida do BTG Pactual está provocando uma corrida dos concorrentes para colocar operações no mercado antes que a demanda do investidor seja totalmente atendida. “Tem muita instituição querendo antecipar avisos ao mercado para marcar posição e convencer o investidor a esperar pela sua oferta”, afirma Alexandre Assolini, do PMK Advogados.

“Tudo isso é reflexo do mercado imobiliário bastante aquecido, o que não falta é ativo”, afirma Sergio Manoel Correia, economista-chefe da LLA Investimentos. Do lado da demanda, as instituições perceberam que há um interesse forte do investidor. “Para a pessoa física, além de ser uma alternativa de diversificação, o fundo imobiliário oferece uma renda interessante, sem o risco de bolsa pura”, diz o advogado Navarro. Nos fundos com cotas negociadas em bolsa, a pessoa física tem isenção de imposto sobre o rendimento pago, em geral originado de receitas de aluguel.

Correia, que na LLA lida especialmente com clientes pessoas físicas, diz que é crescente a disposição do investidor em experimentar ativos diferenciados como fundos imobiliários. “A cada dia a pessoa física vem respondendo por uma parcela maior das colocações de fundos e a restrição de liquidez e o prazo têm sido menos importantes para esse investidor”, diz o executivo.

Outra fatia importante de interessados é a de investidores institucionais. O fundo imobiliário, segundo Correia, faz todo sentido para as fundações, que têm um horizonte de investimentos de longo prazo e buscam indexadores ligadas à inflação.

Os estrangeiros também tendem a absorver boa parte das ofertas em andamento. A demanda de investidores internacionais por ativos imobiliários no país ou mesmo por imóveis ou terrenos está para lá de aquecida, conta Marcelo Pereira, sócio da TAG Investimentos. “Tem muito banco americano comprando terrenos diretamente, estruturando operações para que sua área de private banking lá fora ofereça aos clientes, ou entrando via fundo imobiliário”, diz. Segundo ele, mesmo as pessoas físicas têm se mostrado mais abertas a aplicar em ativos ligados ao segmento imobiliário, dada a isenção de imposto de renda.

Só para se ter ideia, neste ano, estrearam no segmento o Itaú por meio de uma oferta da Kinea, braço de investimentos alternativos do banco, Morgan Stanley, Fator e outros gestores menores, como a Empírica. No ano passado, o Bradesco voltou a dar as caras dividindo a coordenação de emissões com o BB Investimentos e Santander. ACaixa retomou operações e o Citibank ingressou nesse mercado. “Tem um efeito manada, muita gente que nem pensava em fundo imobiliário acabou sendo forçada a olhar para isso”, diz Navarro.

Vale uma ressalva. O fato de os fundos do BTG Pactual terem sido registrados com volumes na casa do bilhão não significa que eles tenham necessariamente de captar tudo já – há um volume mínimo para que a carteira entre em operação. A estratégia apenas facilita a realização de novas emissões, uma vez que libera o administrador do fundo da convocação de assembleia de cotistas para aprovação.

No mercado externo, é bem comum haver um fundo grande, de alguns bilhões de dólares, apenas com uma política de investimentos definida, não necessariamente com os empreendimentos ou ativos pré-selecionados. Por aqui, o comum sempre foi ter fundos de um determinado shopping, hospital ou mesmo de uma torre específica de escritórios. “O mercado nasceu torto, com cara do empreendimento, mas isso começa a mudar, num sinal de maturidade”, afirma Navarro, lembrando que criar uma estrutura grande para carregar um único ativo não é nada eficiente.

Os fundos do BTG Pactual, conforme as ofertas em análise, tendem a explorar, cada um, nichos diversos, de empreendimentos prontos em busca da renda do aluguel a incorporação imobiliária, passando por papéis como certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e letras de crédito imobiliário (LCIs). “O investidor que entrar em uma carteira apenas com a política de investimentos definida estará comprando a capacidade do gestor”, diz Navarro.

O advogado diz ainda que esperava há anos por um salto no segmento de fundos imobiliários, e que isso mal começou. Só o escritório dele, por exemplo, tem nove fundos em fase de estruturação, com um volume total de R$ 2 bilhões, para o lançamento ainda este ano.

Já o PMK Advogados está trabalhando na elaboração de 31 fundos imobiliários. Sobre o volume, Assolini conta que nem teve tempo de parar para contar. “Nossa tradição sempre foi trabalhar na estruturação de CRIs; hoje, estou fazendo mais fundo imobiliário”, conta o advogado.

Fundos imobiliários deslancham

Fonte: Valor Econômico

A demanda de investidores internacionais por ativos imobiliários no país está muito aquecida

Os fundos imobiliários vão receber uma avalanche de recursos em breve, depois de terem despertado a atenção de investidores externos e dos maiores bancos nacionais. Só na última semana, o BTG Pactual entrou com pedido de análise na Comissão de Valores Mobiliários para quatro fundos de R$ 1 bilhão cada um. Com outra carteira do banco em análise desde junho, são R$ 5 bilhões, quantia que quase se iguala ao patrimônio total dos fundos em operação, de R$ 5,9 bilhões. Em fase de registro ou captação, há cerca de R$ 9 bilhões, bem mais que os R$ 3,44 bilhões de 2009.

A demanda de investidores internacionais por ativos imobiliários no país está muito aquecida, diz Marcelo Pereira, sócio da TAG Investimentos. “Tem muito banco americano comprando terrenos diretamente, estruturando operações para que sua área de ‘private banking’ lá fora ofereça aos clientes, ou entrando via fundo imobiliário”.

A investida do BTG Pactual está provocando uma corrida dos concorrentes para colocar operações no mercado antes que a demanda do investidor seja totalmente atendida. “Há muitas instituições querendo antecipar avisos ao mercado para marcar posição e convencer o investidor a esperar sua oferta”, afirma Alexandre Assolini, do PMK Advogados, que trabalha na elaboração de 31 fundos para o setor. O escritório Navarro Advogados tem mais nove fundos em estruturação, com volume total de R$ 2 bilhões, para lançamento ainda em 2010.

Só neste ano os fundos imobiliários atraíram o Itaú, por meio de uma oferta da Kinea (braço de investimentos alternativos do banco), Morgan Stanley, Fator e outros gestores menores, como a Empírica. No ano passado, o Bradesco voltou ao mercado dividindo a coordenação de emissões com o BB Investimentos e Santander. A Caixa Econômica Federal retomou operações e o Citibank ingressou no segmento.

“O que não falta é ativo”, afirma Sergio Manoel Correia, economista-chefe da LLA Investimentos, que lida especialmente com pessoas físicas. Ele diz que é crescente a disposição do investidor em experimentar ativos diferenciados, como os fundos imobiliários. “A cada dia a pessoa física responde por uma parcela maior das colocações de fundos e a restrição de liquidez e o prazo têm sido menos importantes para esse investidor”.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O compulsório sobre os depósitos de poupança

O Estado de S.Paulo

O governo estuda reduzir o depósito compulsório que incide sobre as cadernetas de poupança, hoje de 30% dos saldos. Mas a liberalidade, aparentemente bem-vinda, poderá retardar o desenvolvimento de outros mecanismos de captação de recursos para imóveis.

Hoje, o crédito à moradia tem como principais fontes de recursos os depósitos em caderneta de poupança e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Os saldos aplicados em caderneta, da ordem de R$ 278 bilhões, propiciaram a expansão rápida dos empréstimos, sobretudo para a classe média. As operações de crédito com recursos das cadernetas passaram de R$ 30 bilhões, em 2008, para R$ 34 bilhões, em 2009, chegando a R$ 47 bilhões, nos últimos 12 meses.

Pelas regras do Banco Central (BC), os bancos têm de destinar no mínimo 65% dos recursos das cadernetas para o crédito imobiliário, sob pena de recolher o que faltar ao BC, com taxas punitivas. Mas, na prática, esse porcentual já atinge os 70%, indicando o grande interesse dos bancos pela aplicação, que mantém o cliente na instituição durante muitos anos.

Dos 30% do compulsório sobre as cadernetas, 20% são remunerados a 6,17% ao ano mais TR, ou seja, a mesma remuneração paga às cadernetas; e 10%, pela taxa Selic, que é mais alta. É possível que o governo, ao estudar a liberação desses montantes para aplicação em operações de crédito à moradia, pretenda reduzir seu custo.

Não há falta de recursos para emprestar, mas algumas instituições já preveem que isso ocorrerá, em dois ou três anos, com o aumento da demanda. A diminuição do compulsório sobre as cadernetas permitiria adiar a hora da escassez de recursos.

Neste ano, dois instrumentos de captação de recursos para financiar imóveis ganham importância: os fundos imobiliários, que deverão captar R$ 5,5 bilhões, e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), emitidos por companhias securitizadoras, com colocações estimadas em R$ 7 bilhões, maior valor desde seu lançamento, na década passada.

Mas, se a oferta de crédito é satisfatória e assim permanecer por mais tempo, a redução do compulsório tenderia a ser inócua, no curto prazo.

É essencial desenvolver as modalidades de captação de recursos do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI), para reduzir a dependência dos recursos das cadernetas. Se a taxa básica de juros cair, no futuro, a remuneração da caderneta poderá voltar a ser discutida. E qualquer mudança nesse instrumento dependerá da existência de mecanismos alternativos, tal sua relevância.

Governo afrouxa cinto dos bancos ao financiamento

Mercado imobiliário vai ganhar força com recursos adicionais planejados pelo governo


O secretário de Política Econômica do órgão, Nelson Barbosa, disse ao Brasil Econômico que avalia deixar que os próprios bancos tenham a prerrogativa de escolher se querem usar os recursos para conceder os empréstimos aos mutuários ou deixá-los no BC para que continuem sendo remunerados pela taxa básica de juros, a Selic.

"A instituição também poderia optar em destinar apenas um percentual disso para atender a sua demanda e deixar a outra onde está", disse.

Dados divulgados pela autoridade monetária mostram que o estoque de depósitos da poupança era de R$ 349,5 bilhões, sendo que apenas para o crédito imobiliário eram R$ 276,9 bilhões.

Assim 10% desse valor, que hoje é a exigibilidade adicional, poderiam ser liberados de forma escalonada, ou seja, R$ 27,6 bilhões.

De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a liberação deveria ocorrer gradualmente para evitar que volume desta magnitude fosse injetado na economia de uma vez.

Em todo caso, a flexibilização garantiria que o volume de recursos para habitação subisse dos atuais 65% para 75% da totalidade que é depositada pela população na poupança.

"É um tipo de captação mais barato. Mas essa medida não é para agora, estamos avaliando sua viabilidade", ressaltou Barbosa.

Liberação provisória

O secretário lembra que todos os países maduros tiveram a habitação, juntamente com um mercado de títulos públicos, como carro-chefe do desenvolvimento dos financiamentos de longo prazo.

Hoje os financiamentos habitacionais, segundo dados do BC, representam apenas 3,4% do PIB e muito disso ainda está sendo puxado pela Caixa Econômica Federal.

"Mas isso seria apenas por tempo determinado, até que o mercado se desenvolvesse para suprir a demanda", afirmou o secretário. Para ele, recursos existem e vão existir para financiamento de infraestrutura e habitação.

"A questão é a taxa de juros, que será mais alta do que ocorre usando-se o FAT [Fundo de Amparo ao Trabalhador], no caso do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], e da poupança, no caso da habitação".

Redução de tributos

Outra proposta que está sobre a mesa da equipe econômica é a isenção do Imposto de Renda (IR) para empresas que comprarem o Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) assim como já ocorre com as pessoas físicas.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a intenção é dar musculatura ao sistema de recebíveis, da mesma forma que ocorre no mercado internacional.

Com essas e outras medidas, alega o governo, será possível fomentar o crédito e dar capacidade às instituições financeiras privadas.

Só o fato de o governo estudar medidas para estímular o crédito já é um alento para o mercado.

"O importante é que o assunto está sendo discutido. Qualquer medida que desonere e gere recursos de longo prazo é bem-vinda", afirmou José Roberto Machado, diretor de crédito imobiliário do Santander.

Para Claudio Borges, diretor de Crédito Imobiliário do Bradesco, o importante é começar a discussão e verificar todas as possibilidades para o futuro. "Se não for viabilizado hoje, vai mostrar ao menos que novas alternativas são necessárias para o setor.



*Fonte : Brasil Econômico





Jean Hausemer

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Total de ofertas de fundos imobiliários já soma R$ 5,5 bi

Por Luciana Monteiro


Diante de um mercado muito incerto, os ativos imobiliários vêm roubando a cena. Em apenas uma semana, cerca de R$ 2 bilhões em ofertas de fundos imobiliários coordenadas pelo BTG Pactual ingressaram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para se ter ideia, o valor total de R$ 5,519 bilhões deste ano, considerando as operações em análise, as registradas e as dispensadas de registro, já supera os R$ 3,445 bilhões registrados no ano passado.

Os aluguéis comerciais de grandes empresas são o foco do fundo imobiliário RB Capital Renda II, cuja oferta soma R$ 190 milhões. Serão emitidas 2,563 milhões de cotas, cada uma com valor unitário de R$ 74,12. O mínimo para investir é de 68 cotas, o que significa uma aplicação inicial de R$ 5.040,16. O coordenador-líder da oferta é o BB Investimentos e a administração ficará a cargo da Pentágono Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Já a RB Capital atuará como consultora imobiliária e gestora.

Os recursos captados pela oferta serão destinados à aquisição de seis empreendimentos, construídos sob medida para quatro empresas: AmBev, Leader, Ampla e Agusta. Todos os seis empreendimentos já estão alugados, com contratos com prazo médio de 14 anos. Todos têm contratos de locação chamados de atípicos - se o locatário resolver sair antes de o prazo vencer, ele terá de pagar uma multa referente a todo o saldo remanescente. Pela lei do inquilinato normal, a companhia teria de pagar três aluguéis.

Segundo o prospecto da oferta, o objetivo do fundo "consiste na exploração desses empreendimentos, passando a figurar como locador dos contratos de locação atípica já firmados, de modo que o fundo passe a receber diretamente a renda decorrente dos aluguéis". O início do prazo de reserva começa em 30 de agosto e termina em 28 de setembro. A taxa de administração e de gestão é de 0,2% ao ano.

O prospeto diz ainda que, de acordo com um estudo de viabilidade realizado, o ganho esperado para o período a se encerrar em outubro de 2020 corresponde a 8,63% acrescido da variação da inflação. "Ainda de acordo com o estudo, considerando-se um período mais amplo, a se encerrar em outubro de 2060, a rentabilidade esperada corresponde a 8,89%, acrescida da inflação." O documento deixa claro, entretanto, que não existe nenhuma garantia de que esse retorno será alcançado.

Esta é a segunda carteira do gênero estruturada pela RB Capital com foco em imóveis construídos sob medida para empresas. No ano passado, houve a oferta do RB Capital Renda I, que englobava empreendimentos alugados para AmBev, Danfoss, C&A e Leader. Na ocasião, a operação foi coordenada pelos bancos Bradesco BBI e BB Investimentos, no valor de R$ 132 milhões.

Além dessa oferta, o Bradesco anunciou ontem que atuará como formador de mercado para as cotas do fundo Mais Shopping Largo 13. O formador de mercado é um agente contratado para garantir um mínimo de negócios, assegurando que o investidor encontrará comprador para as ações quando quiser vendê-las. Esta é a segunda vez que o banco atua como formador de mercado de fundos imobiliários. O primeiro ocorreu com as cotas da carteira Presidente Vargas.

Com o anúncio, os investidores que já tiverem aderido à oferta devem confirmar, no prazo de cinco dias úteis contados a partir de ontem, o interesse em continuar na oferta. Caso o aplicador não se manifeste, ficará subentendida a manutenção do interesse.

A oferta pública de cotas do Mais Shopping Largo 13 soma R$ 90,840 milhões. São ofertadas 90.840 cotas, no valor de R$ 1 mil cada uma. O investidor deverá adquirir, no entanto, o mínimo de cinco cotas, ou seja, a aplicação inicial é de R$ 5 mil. O investimento máximo é de R$ 1,5 milhão. O prazo de reserva vai até 10 de setembro.

Dos recursos captados, 95,1% serão utilizados pelo fundo para a aquisição de 20% a 40% do empreendimento imobiliário "Mais Shopping Largo 13". Com inauguração prevista para outubro de 2010, o shopping está situado no Largo Treze de Maio, no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo. Os outros 4,9% serão destinados ao pagamento dos custos da operação. A taxa de administração é de 0,5% ao ano.

O Mais Shopping Largo 13 é um projeto que utilizará lojas modulares, com tamanho entre 10 e 20 metros quadrados. O espaço será alugado ao lojista mediante pagamento de um preço fixo por mês, independentemente do volume de vendas. As lojas serão contratadas por prazo indeterminado, sem direito a renovação compulsória.

E o mercado de fundos imobiliários deve ganhar ainda mais corpo. O Banco do Brasil já anunciou que pretende lançar em setembro um fundo imobiliário , em parceira com o Banco Votorantim.

Ações do documento Pessoa física detém 77% de emissão CRI

Valor Econômico - 24/08/2010


Além de fundos, o segmento de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) também está em ebulição neste ano, principalmente entre os investidores pessoas físicas de alta renda. A Brookfield Incorporações, por exemplo, acabou de realizar uma oferta de R$ 120 milhões de CRIs, com prazo de seis anos. Do total de 389 CRIs que foram efetivamente a mercado, 77%, ou seja, 300 deles, ficaram nas mãos de pessoas físicas. A rentabilidade do papel ficou em 7,7% ao ano, além da variação do Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M).

Os CRIs funcionam da seguinte maneira: um incorporador tem uma carteira de recebíveis imobiliários. Esse incorporador vende essa carteira para uma empresa securitizadora, que a usa como garantia para a emissão de certificados, que daí são então distribuídos ao mercado.

Como são isentos de IR, esses investimentos se tornaram especialmente interessantes para os investidores de alta renda, já que somente investidores qualificados podem comprar esse papel. O detentor de um CRI pode negociar o papel antes do vencimento, mas, nesse caso, será tributado pela tabela regressiva de imposto de renda, que varia de 22,5% a 15% de acordo com o prazo.

Os CRIs da Brookfield dizem respeito a dois empreendimentos comerciais em construção, situados no Rio de Janeiro, ambos 90% já vendidos, explica Cristiano Machado, diretor executivo Financeiro da Brookfield Incorporações. Os empreendimentos em questão são dois complexos corporativos e de escritórios, o Barra Business e o Barra Prime, ambos na Barra da Tijuca, que devem ser entregues em 2011. O CRI é um papel que tem chamado bastante a atenção da pessoa física, que permite retornos maiores e ainda líquidos de imposto de renda, diz Machado.

Diante da forte demanda por papéis desse tipo, a Brookfield já planeja outras três emissões de CRI. Uma delas segue o molde dessa operação realizada, de empreendimentos comerciais, e outras duas de imóveis comerciais. Os CRIs foram estruturados pela companhia em conjunto com o Banco BTG Pactual e Gaia Securitizadora. Também participaram do processo o PMKA como assessor legal e a Pentágono como agente fiduciário e custodiante.

BC analisa risco de securitizadoras

Carolina Mandl, de São Paulo

Valor 25/08/2010
Com o boom imobiliário como pano de fundo, o Banco Central está atento a possíveis riscos que podem se originar no mercado financeiro fora de sua alçada. Segundo o Valor apurou, a autoridade tem mantido conversas com empresas que atuam na securitização dos créditos imobiliários, ou seja, que os empacotam para transformá-los em títulos mobiliários, os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), e vendê-los a investidores. Um dos tópicos discutidos é estabelecer exigência de um capital próprio mínimo para essas securitizadoras. A obrigatoriedade de capital mínimo que existe para bancos e financeiras hoje não contempla as securitizadoras, que não são instituições financeiras e tendem a ganhar papel cada vez mais relevante na cadeia do crédito imobiliário. Procurado pelo Valor, o BC não comentou o tema até o fechamento desta edição.

As conversas com o Banco Central vêm sendo capitaneadas pelas maiores empresas do setor. Hoje, as principais secutirizadoras já operam com um capital substancial. A implementação de medida de tal natureza imporia uma barreira de entrada para novos concorrentes. Qualquer medida nesse sentido teria que ser implementada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia do Ministério da Fazenda, responsável pela regulação das securitizadoras.

A reboque do mercado imobiliário, a emissão de recebíveis vai crescer bastante no Brasil, o que inspira cuidados. De 2000 até este mês, cerca de R$ 20 bilhões já foram emitidos em CRIs pelas securitizadoras. Só neste ano, porém, já foram lançados R$ 5 bilhões, indicando que esse segmento começa a tomar um novo fôlego. A previsão no setor imobiliário é que daqui a dois anos os recursos da poupança não serão mais suficientes para o financiamento. As instituições passarão a vender suas carteiras de crédito, tirando essas operações de seus balanços e captando novos recursos. Até a Caixa Econômica Federal, líder do segmento, já sinalizou que pretende securitizar seu estoque bilionário.


Como isso vai parar na mão dos investidores num volume crescente, o risco está na qualidade dos recebíveis que as securitizadoras vão revender. Criadas por lei em 1997, as securitizadoras estão sob a supervisão da CVM. O papel delas é transformar os créditos em recebíveis para vendê-los a investidores, e posteriormente, fazer a administração dessa carteira de recebíveis.

Em geral, porém, essas emissões de CRIs são feitas por meio do chamado regime fiduciário, uma modalidade que permite que, em caso de quebra da securitizadora, os papéis continuem pertencendo aos investidores, sem se misturar com o patrimônio da empresa. Por isso há participantes do mercado que não enxergam necessidade de capital mínimo, acreditando que isso só servirá para criar uma barreira de entrada. "A maior proteção para o mercado pode vir da busca de maior transparência das operações para que o investidor conheça aquilo que está comprando", avalia João Paulo Pacífico, sócio da Gaia, empresa novata e que tem realizado operações relevantes.

Questionada sobre o que representaria a imposição dessa exigência para o setor, a Brazilian Securities, que hoje lidera esse mercado e tem R$ 100 milhões de capital próprio, se mostra favorável. Para a empresa, há questões que vão além da separação das carteiras de recebíveis do patrimônio. "Uma eventual obrigatoriedade de capital pode vir a criar um comprometimento mínimo da securitizadora com papéis que têm vencimento no longo prazo, em até 30 anos", diz o diretor Fernando Cruz.

A Cibrasec, securitizadora que tem como sócias 27 instituições financeiras, também é favorável à adoção do capital mínimo. "Na prática, as maiores securitizadoras já estão operando como bancos médios. Por isso é preciso se exigir um investimento mínimo para quem quiser participar desse mercado. É importante criar uma barreira de entrada", afirma Fernando Brasileiro, presidente da Cibrasec.

A chegada desde o ano passado de um novo concorrente vem incomodando participantes mais tradicionais. Com apenas cerca de R$ 500 mil de capital inicial, a Gaia já aparece na terceira colocação do ranking de emissões deste ano, com R$ 584,1 milhões.

Com passagens por diversas securitizadoras, João Paulo Pacífico decidiu montar sua própria empresa e, para não perder tempo com a criação de uma nova securitizadora, decidiu comprar uma já aberta, mas inoperante. Em um ano de operações, a Gaia já fez emissões de R$ 1 bilhão em CRIs. A estratégia de Pacífico é apenas intermediar as pontas vendedoras e compradoras dos recebíveis, sem adquirir parte da emissão. Com esse modelo, já fez a securitização de recebíveis da incorporadora Brookfield e de três shoppings, por exemplo.

Na CVM, está em análise o início das operações de mais uma empresa, chamada Portfólio.