quinta-feira, 7 de julho de 2011

Será que o pior já passou para os investimentos este ano?

Valor Econômico - São Paulo/SP - EMPRESAS CITADAS - 07/07/2011 - 01:03:04

 

Otávio Vieira

 

O primeiro semestre de 2011 acabou de forma positiva para a economia real no Brasil, mas de forma bastante complicada na seara dos ativos financeiros. Os gestores de recursos (tanto de patrimônio como de fundos multimercado e de ações) tiveram muita dificuldade de superar o CDI por uma quantidade grande de razões.

 

O cenário econômico global está passando por momento histórico que deve render alguns capítulos nos livros de história. Estamos passando por nova fase de descentralização do poder. Os grandes emergentes estão finalmente emergindo de fato. Em mais alguns anos, a China se tornará um poder hegemônico paralelo, destronando os EUA como única grande força mundial. As demais grandes economias em desenvolvimento como Brasil, Índia, Rússia, Indonésia e outros vão tomar espaço no PIB global que está sendo deixado pelo Japão e alguns países europeus.

 

Essa reorganização, junto com o fato das economias centrais estarem em fase de convalescência da crise de 2008, traz incertezas que serão digeridas ao longo de alguns anos e não meses.

 

Temos também dois outros aspectos muito importantes e que causaram (e deverão causar no futuro) períodos de turbulência. Os países periféricos europeus (Grécia, Portugal e Irlanda) estão em situação fiscal muito delicada. O ajuste necessário para corrigir isso vai causar recessão inaceitável por suas populações ou renegociação da dívida pública. Em paralelo, há vários países no Oriente Médio passando por revoltas populares.

 

Somado a isso, presenciamos o terremoto no Japão e o governo brasileiro querendo ser notável indutor na orientação econômica privada, por meio do BNDES e da participação decisória muito ativa em grandes empresas abertas, casos principalmente de Petrobras e Vale.

 

O dragão da inflação também contribuiu bastante para aumentar as incertezas nos mercados. Caso saia do controle, o Banco Central será obrigado a aumentar os juros reais, encarecendo custos financeiros e aumentando ainda mais o diferencial entre a realidade brasileira e externa. Isto aprofundará a apreciação do real com consequências na competitividade da indústria nacional e no custo das reservas internacionais.

 

A consequência é que o CDI (5,52%) teve o melhor desempenho entre todas as classes de ativos no primeiro semestre, não apenas em comparação com a renda variável como também em relação aos outros indicadores relevantes na renda fixa, tais como o IMA-B (mede o desempenho dos títulos indexados à inflação) e o IRF-M (relacionado aos títulos prefixados) com 5,02% e 5,26%, respectivamente, no mesmo período.

 

A boa notícia é que o segundo semestre do ano pode ser mais promissor por conta dos seguintes fatores: existe muita disposição para que não haja renegociação desorganizada da dívida da Grécia, a atividade parece estar mais saudável nos EUA, menor incerteza em relação ao tamanho do ajuste da Selic no Brasil e a normalização dos preços das commodities. Entretanto, o investidor deve permanecer cauteloso, pois não há certeza que navegaremos em águas mais calmas. De outro lado, atualmente as oportunidades de investimento com relação favorável de risco versus retorno esperado são mais numerosas do que no início do ano.

 

Existe também uma ressalva a ser feita em relação a algumas estruturas de crédito privado que contam com retorno ainda mais atrativo que o CDI. Exemplos: DPGEs (depósito a prazo com garantia especial do Fundo Garantidor de Créditos), FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios), CRIs (certificado de recebíveis imobiliários) e LCIs/LCAs (letras de crédito imobiliário ou agrícola).

 

Todas essas alternativas devem ser analisadas de forma muito cuidadosa e indicada apenas aos investidores mais sofisticados e/ou que contem com apoio de profissionais especializados. O mundo presenciou recentemente a maior estória de fraude financeira na sua história: o fundo Madoff. No Brasil, não foi diferente, pois já tivemos alguns casos de desvios que revelaram quão traumática a experiência pode vir a ser.

 

Apesar de o nosso mercado contar com regulamentação e controle dos mais eficientes do planeta, o crescimento do volume de crédito e dos seus produtos financeiros derivados produzirá outros casos de insucesso e as decepções serão quase inevitáveis.

 

Otávio Vieira é diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio

 

E-mail ovieira@safdie.com.br

 

Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

 

 

 

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