terça-feira, 5 de julho de 2011

Ex-diretor financeiro é novo presidente da Gafisa

Valor Econômico - São Paulo/SP - EMPRESAS - 05/07/2011 - 01:03:57

 

Daniela DAmbrosio e Denise Carvalho | De São Paulo

 

Num dia atribulado de trabalho, com jornada de visita a obras e escritórios regionais de Porto Alegre e Curitiba, Duílio Calciolari assumiu, ontem, oficialmente como novo presidente da Gafisa. Depois de cinquenta e quatro dias ocupando a vaga interinamente, Duílio - como é conhecido pelo mercado - foi oficializado pelo conselho de administração. Com onze anos de empresa, o executivo terá pela frente o desafio de gerir a menos rentável entre as gigantes do setor e a segunda com maior queda nos últimos 12 meses entre todas as abertas.

 

Para o cargo de diretor financeiro, a empresa elegeu Rodrigo Osmo, que comandava Alphaville. A função de relação com investidores continua com Calciolari até o fim do ano, enquanto Osmo faz a transição de Alphaville e, então, assume os dois cargos: financeiro e relações com investidores. A empresa de loteamentos Alphaville é o negócio mais rentável da Gafisa e tem contribuído para melhorar os resultados da companhia.

 

Entre os profissionais da companhia ouvidos pelo Valor durante a fase em que Duílio esteve como interino, a predileção pelo executivo era nítida. Assim como a percepção de que ele se manteria no cargo. Do lado de fora, as apostas seguiam na mesma direção. Poucas pessoas acreditavam que a empresa escolhesse um executivo de fora - sem a cultura da companhia ou um profundo conhecimento do mercado imobiliário, como a companhia chegou a cogitar. Enquanto Calciolari ocupava a posição, paralelamente, a Russell Reynolds - empresa de recrutamento de executivos - fazia um processo de seleção externo.

 

Duílio Calciolari é quem mais conhece em detalhes, e com profundidade, as mazelas herdadas de Tenda

 

Ainda que não tenha saído da "escola" GP, como o antecessor Wilson Amaral e Rodrigo Osmo, o executivo tem a simpatia de analistas e investidores justamente pela experiência. "Duilio traz habilidades de gestão e um profundo conhecimento da empresa e do setor imobiliário. Estamos confiantes de que ele e o Rodrigo Osmo irão cumprir as metas estabelecidas e conduzir a Gafisa com uma estratégia de otimização das operações e foco no crescimento com rentabilidade", disse, em fato relevante, Caio Mattar, presidente do conselho de administração da Gafisa.

 

Segundo o Valor apurou, o único senão em relação ao nome de Duílio era o fato de ele, assim como Wilson Amaral, ter defendido a compra de Tenda - claramente a maior fonte de problemas da empresa nos últimos dois anos. Mas justamente por isso, Duílio é quem mais conhece em detalhes, e com profundidade, as mazelas herdadas da companhia mineira de baixa renda, que mostrou mais problemas do que a Gafisa supunha.

 

Agora, como presidente, o executivo sai da pouco confortável fase de teste - a aposta do mercado é que, se não fosse escolhido, Duílio sairia da companhia - e assume o discurso da continuidade, como alguém que sempre foi muito próximo de Wilson Amaral. "Não há mudanças, o objetivo é manter a estratégia de crescer a rentabilidade, é isso que o nosso acionista quer", disse Duílio ontem, ao Valor. Para analistas, tem a dura missão de mudar a imagem da empresa que deixa a desejar e que sempre demora mais que o esperado para entregar os resultados.

 

Com receita líquida de R$ 800 milhões, a quarta maior do setor, a Gafisa está muito aquém nas margens. A margem Ebitda da companhia foi de 8% (metade da média setorial) e a margem líquida de 2% (para uma média de 12% entre as abertas). "Sabíamos e inclusive comunicamos ao mercado que o primeiro semestre seria pior, mas mantemos a projeção de margem Ebitda do ano passado." O que significa sair de 8% para um intervalo entre 18% e 22%. "Nossa rentabilidade foi prejudicada por Tenda e pela distribuição geográfica", diz. De acordo com o executivo, a empresa deve permanecer em mercados onde tenha "visibilidade de anos de operação."

 

O maior problema de Tenda, que antes de ser comprada vendia os apartamentos diretamente aos clientes sem financiamento bancário, é o repasse dos compradores para a Caixa Econômica Federal. Ainda que a Gafisa tenha acelerado esse processo, o volume de distratos (apartamentos revendidos) é de cerca de 20%. Com um forte apelo de varejo e preço baixo, a Tenda foi comprada pela Gafisa numa operação relâmpago, apenas 15 dias antes da quebra do banco Lehman Brothers e do estouro da crise financeira internacional.

 

Segundo Duílio, o legado de Tenda está chegando ao fim. O executivo diz que a companhia irá entregar este ano 25 mil unidades, contra 12,8 mil em 2010. Do total, 75% são de Tenda. De acordo com o executivo, a empresa começa a fazer as primeiras entregas de Tenda da gestão Gafisa. A empresa fez provisões no valor de R$ 10,9 milhões, dos quais R$ 5 milhões por contingências de Tenda "relativas ao atraso na entrega de unidades".

 

Outro desafio que o executivo tem para administrar é a questão do endividamento. Com alto consumo de caixa para acelerar as obras, a relação dívida líquida/patrimônio líquido ficou em 72% ao fim de março e a meta para o ano é de 60%.

 

Com a experiência de quem conhece a companhia antes e depois da abertura de capital, Duílio afirma que a empresa aprendeu com os erros. "Hoje temos uma empresa muito mais madura. Conseguimos ser mais assertivos nos produtos lançados e na parte de custos e prazos."

 

A ação da Gafisa está cotada em torno de R$ 7,5, um dos patamares mais baixos dos últimos meses. Só este ano, o papel da empresa cai 36,6%, a segunda maior baixa, depois de Trisul. Para analistas e consultores do mercado imobiliário, seria uma ótima oportunidade de compra para empresas que tomaram a dianteira para consolidar o setor, como a PDG e a Brookfield.

 

A Gafisa é uma organização sem controle definido. O candidato à aquisição deve fazer uma oferta pública de ações (OPA) aos minoritários. Caberia aos executivos da Gafisa analisar a proposta e fazer recomendação aos acionistas.

 

"Se uma das grandes empresas do setor fizesse uma oferta agora pela Gafisa, certamente, os minoritários iriam adorar e esse movimento valorizaria as ações da empresa", diz um analista que não quis se identificar. "Essa não é uma preocupação do management, mas se ocorrer, nos cabe apenas dar um parecer ao conselho", afirma Calciolari.

 

Como não há uma oferta na mesa, Calciolari tem um desafio mais imediato de terminar de solucionar os problemas de Tenda e entregar uma empresa mais redonda aos acionistas. Para Guilherme Vilazante, analista do Barclays, a situação deve melhorar. "Essa dor tem data para acabar, quando os projetos de 2008 vão deixar pesar nos resultados da empresa", diz em relatório.

 

 

 

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