quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Executivo aposta em linhas de longo prazo

DCI 04.11.2010

SÃO PAULO - Crédito imobiliário, estudantil e cadastro positivo devem nortear o mercado de empréstimo próximos anos. Esta é a constatação do sócio e consultor da Witrisk consultoria, Fernando Manfio.

Ele antevê que o consumidor brasileiro deve adquirir novos hábitos quando acontecer o boom do crédito imobiliário. "A primeira mudança já acontece. Hoje quem ingressa no mercado de trabalho já tem como meta a entrada no primeiro imóvel. Pode ser que ele deixe de pagar uma conta em detrimento do imóvel. Ainda não podemos prever."

Manfio destaca que o mercado precisa aprender a ter inteligência tanto para dar crédito como para cobrar. "Não estar inadimplente não significa que a pessoa não esteja sufocada com parcelas. Hoje, ninguém sabe desta informação, pois elas são individualizadas nas empresas. Um banco não sabe do outro."

Cadastro positivo

"Emprestar melhor para receber melhor" foi a fórmula utilizada por Fernando Manfio para analisar a necessidade da implantação do cadastro positivo no Brasil. "O cadastro precisa ter informações do cliente, não apenas saber se o cliente comprou aqui ou ali."

Em sua opinião, o cadastro precisa ter informações como o endereço e o comportamento de compra das pessoas. "Quanto mais abrangentes as informações, mais inteligente é a decisão de conceder crédito ou não." O problema, avalia, é que as empresas não querem dividir informações, pois "quem faz a lei não conhece o sistema brasileiro."

O executivo avalia que o Brasil vive um nível de inadimplência bastante bom. "Eu imaginava que teríamos problemas no mercado de automóveis. Com a crise mundial, o mercado segurou a concessão de crédito e a bolha não estourou."

Hoje, ele avalia que as redes têm melhores critérios para conceder crédito. "Claro que quando cresce a carteira, a inadimplência diminui", ressaltou.

Apoiado pelo recente crescimento do Brasil, o especialista afirmou que a expansão de crédito acontece desde a criação do Plano Real. "O crescimento médio é de 20% ao ano. Hoje as pessoas físicas representam 15% do Produto Interno Bruto (PIB). O percentual, excluindo-se o volume de crédito imobiliário, representa o mesmo tamanho de crédito americano."

Cobrança

"Muita gente cobra o mesmo cliente, mas, se o bolso é um só, porque pagar um e não o outro?" Para solucionar estes problemas, Manfio diz que as empresas já usam inteligência e tecnologia de cobrar melhor. "Fazer a abordagem mais adequada, ser simpático e oferecer melhores acordos são fatores que precisam estar no escopo de soluções. Cobrança é a coqueluche do mercado."

A cobrança, no entender do especialista, é outro ponto que o mercado precisa aprender melhor. "Para entender qual devedor precisa de uma mensagem de celular ou que qual precisa de uma abordagem mais assertiva precisa estudar a base de dados. Dependendo da dificuldade, precisa de um certo tipo de cobrador."

Para ter melhor aproveitamento nas cobranças, Manfio destaca que as financeiras desenham planos antes de soltar crédito. "Não existe uma regra, mas variações. Vender uma roupa parcelada é mais arriscado que vender um eletrodoméstico. A roupa estraga mais fácil e a loja não vai tomar a roupa usada. O cartão de crédito tem mais inadimplência que o crédito consignado."

Na avaliação do especialista, a cobrança inteligente usa tecnologia, estatística, analise de dados, precisão e probabilidade de recuperação dos clientes. "Precisa saber como o devedor gosta de ser abordado. São milhões de pessoas e isto envolve estudos."

Como contraponto, ele ressalta que as redes assumem riscos calculados. "As grandes redes têm percentual de inadimplência. O grande foco não é baixar a inadimplência, mas aumentar o lucro. A inadimplência é um vetor. Quer ganhar quanto para o risco? A rede precisa avaliar isto."

A grande missão é equilibrar receita e devedores, destacou Manfio. Para ele, de nada adianta muito rigor na concessão de crédito se a rede deixa de vender por isso. "Aumentar a receita dos produtos de crédito e adequar o spread. Uma alternativa é oferecer seguro contra calote. No varejo, o crédito não é principal: ele funciona como alavancagem para obter mais vendas."

Imobiliário

Para Manfio, o crédito imobiliário tem tudo para deslanchar: mercado, oferta e legislação. "Para mitigar os riscos da forte expansão precisa fomentar o cadastro positivo, pois melhorar a concessão do crédito diminui aa probabilidade de o tomador dever."

Embora avalie que a modalidade ainda é incipiente e nova no Brasil, diz que "precisa de regulação do sistema e melhores garantias para quem empresta."

O executivo ressalta que é possível evitar uma crise imobiliária no Brasil, pois as garantias são melhores do que as que os EUA tinham. "O número de devedores não será proporcional ao de outros mercados de crédito. Hoje, a taxa de juros para imóveis gira em torno de 1,5%, ao mês: não pode ser comparada ao praticado com cartão de crédito."

Outra 'arma' que impede a formação de uma bolha imobiliária, no entender do especialista, é que o mercado de crédito imobiliário começa mais maduro, "pois o sistema já emprestou dinheiro a modalidades mais arriscadas, como o crédito a pessoas com renda de um salário mínimo. Ainda temos de entender as classes C e D."

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