terça-feira, 23 de novembro de 2010

Com caixa cheio, Petrobras quer poupar capital próprio

Valor Econômico - São Paulo/SP - 22/11/2010



Com R$ 47 bilhões em caixa, o que a coloca como a sexta empresa mais endinheirada das Américas, rivalizando com o Google em termos de disponibilidades, a Petrobras promete usar de maneira eficiente o dinheiro recebido na forma de aumento de capital. Isso terá que ocorrer mesmo com uma enorme lista de investimentos pela frente, já que a companhia planeja construir quatro grandes refinarias de grande porte simultaneamente e contratar dezenas de plataformas de perfuração e de produção para dobrar de tamanho até 2020.


Para vencer esse desafio, a Petrobras planeja agir em três frentes. Em primeiro lugar, quer cortar os custos tanto dos projetos de exploração e produção como das obras, como as refinarias que pretende construir. Fora isso, vai lançar mão de estratégias financeiras que reduzam a alocação de capital próprio em alguns investimentos e que, ao mesmo tempo, reduzam a necessidade de novas dívidas dentro do balanço da companhia.

Por fim, mas não menos relevante, deve dar prioridade a projetos de exploração que gerem mais caixa para a empresa, como a retirada dos 5 bilhões de barris da cessão onerosa, em que não há incidência de Participação Especial (PE). “Onde for possível nós vamos procurar substituir o nosso capital pelo de terceiros”, disse o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, ao Valor, ao comentar o uso de estruturas financeiras alternativas para alguns projetos.

O comando da empresa sabe perfeitamente que será um desafio atravessar uma fase de pesados investimentos nos próximos anos – até agora são US$ 224 bilhões de 2010 a 2014 -, enquanto a maior parte do retorno surgirá como geração de caixa operacional a partir de 2015.

Somente a exploração das áreas que a empresa obteve na cessão onerosa vão exigir entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões nos próximos quatro a cinco anos, o que inclui perfuração de poços para produção e novas plataformas que serão afretadas. Apesar de reconhecer a existência desse intervalo temporal entre o investimento e a entrada do dinheiro, Almir Barbassa descarta a necessidade de a companhia voltar a realizar um aumento de capital nos próximos anos, como tem sido projetado por analistas recentemente. “Isso está fora do radar”, garante.

A empresa já anunciou que fechará 2010 com captações de US$ 16 bilhões, dos quais US$ 3 bilhões ainda serão obtidos até dezembro por meio de operações com agências de crédito à exportação ou bancos. Do total captado no ano, entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões foram usados em amortizações de dívidas, que somam US$ 38 bilhões no período de cinco anos previsto no plano estratégico 2010-2014.

Uma das estratégias financeiras para poupar caixa será usada com as 28 sondas que a Petrobras quer contratar no Brasil. A dona dos equipamentos será uma holding, em fase de constituição, em que estatal terá apenas de 5% a 10% do capital – o que não exige consolidação no balanço. O restante das ações será de investidores financeiros estrangeiros e locais. O acordo de acionistas dessa empresa está sendo costurado, diz Barbassa.

Para financiar a compra das sondas, o diretor da Petrobras estima que sejam necessários “20 e tantos bilhões de dólares”. Os sócios da holding deverão aportar entre 20% e 30% desse montante na forma de capital e o restante deve ser captado via dívida, que não entrará no balanço da petroleira.

Segundo Barbassa, o capital dessa holding inicialmente será fechado, mas nada impede que seja aberto no futuro. A receita da empresa virá do aluguel dos equipamentos para a própria estatal. “É uma quantia significativa que incidiria em um momento em que temos que produzir mais poços e mais plataformas. Essa estrutura já está madura”, afirma. O benefício é que esse custo não está incluído nos US$ 224 bilhões de investimento do plano estratégico. “Então, de repente, pode haver outras situações semelhantes a essa.”


Estruturas parecidas já foram usadas pela companhia com os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) ligados ao Estaleiro de Rio Grande e também com dois prédios em Macaé (RJ) e com um em Vitória (ES).


Cada US$ 1 de economia na exploração do pré-sal trará ganho bilionário
Do Rio

Para cada US$ 1 por barril de redução no custo de operação ou de investimento na produção de óleo do pré-sal, a Petrobras ganha US$ 20 bilhões, calcula o diretor financeiro, Almir Barbassa. A conta é feita considerando-se a existência de 20 a 30 bilhões de barris no “cluster” de Tupi, como a Petrobras chama a área onde estão as grandes descobertas na bacia de Santos, incluindo algumas ainda sem estimativa oficial de reservas, como Carioca, Bem-Te-Vi e Júpiter.

“Temos ali todas as áreas de concessão, algumas nem plenamente identificadas. Só os campos de Tupi, Iara e Guará têm de 10 a 15 bilhões de barris, mais os 5 bilhões que a gente adquiriu, mais o potencial [adicional] na área, estamos falando de 20 a 30 bilhões de barris de petróleo numa área praticamente confinada, uma área concentrada”, enumera Barbassa.

De olho em novas tecnologias, a Petrobras envolveu uma rede formada por 120 universidades locais e grandes empresas estrangeiras que se instalaram no Brasil para investir na pesquisa para desenvolvimento de novos materiais e processos para produzir em águas profundas e tão longe da costa.

Estão sendo testados processos para separação de água e óleo no fundo do mar (que hoje precisam ser levados até a plataforma para ser separados) e novas técnicas de bombeio que poderão reduzir drasticamente o custo de construção das plataformas. Isso porque quando esses equipamentos puderem ser instalados no fundo do mar, o peso das plataformas será muito menor.

Também visando eficiência, Barbassa admite que a Petrobras pode dar prioridade à exploração na área da cessão onerosa dos 5 bilhões de barris, uma vez que sobre o óleo a ser retirado da região não há incidência de Participação Especial, o que significa mais caixa. Isso não significa, diz ele, que essa exploração reduzirá investimentos voltados para áreas do pré-sal onde a companhia tem sócios, como Tupi, mas que pode ter preferência ante projetos não iniciados na bacia de Campos, por exemplo.

Em relação ao custo, o diretor financeiro da companhia avisa que está disposto a fazer com as refinarias o mesmo que ocorreu durante a fase de negociação das plataformas P-55 e P-57, que foram contratadas em 2008 depois do cancelamento da licitação e renegociação de preços para que se alcançasse um valor considerado justo. “Com essa experiência, vamos perguntar aos fornecedores: ‘Por que seu preço é tão alto? É porque eu pedi dessa e dessa forma? O que é possível fazer para manter a segurança e reduzir o custo?’”, exemplifica.

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