quinta-feira, 30 de setembro de 2010

BLACKSTONE QUER INVESTIR US$ 2 BI NO PAÍS

Valor
30.09.2010

O Blackstone Group pretende investir de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões no Brasil em aproximadamente dois anos, disse ontem Steve Schwarzman, CEO da firma independente de assessoria financeira que é um dos maiores gestores de fundos de private equity e de fundos de hedge (menos avessos ao risco) do mundo. Ele passou um dia no Brasil para anunciar a compra de 40% do capital da empresa de assessoria financeira e de gestão de recursos brasileira Pátria Investimentos.
"A escala dos negócios nos quais o Pátria poderá se envolver será bem maior", disse Schwarzman. "Diante das perspectivas de crescimento econômico do Brasil, nós viemos preencher uma lacuna estratégica", afirma ele. A ideia, segundo Alexandre Saigh, um dos principais sócios do Pátria, é não tirar o pé dos negócios de porte médio ou pequeno, hoje já realizados pelo banco, mas manter as duas estratégias conjuntas e paralelas de atuação.
Schwarzman e os sócios principais do Pátria não quiseram revelar valores nem detalhes da transação. Segundo o Valor apurou, o negócio ficou em aproximadamente US$ 200 milhões. Mas o Blackstone e o Pátria negaram. Em entrevista na sede do Pátria, na Faria Lima, os sócios confirmaram que a ideia é usar os recursos obtidos com a venda dos 40% do capital para investimentos como capital próprio nos 15 fundos da casa e no lançamento de novos fundos. No total, 8% dos cerca de US$ 2,7 bilhões de fundos do Pátria são capital próprio e a ideia é manter essa fatia entre 2% a 5%.
À medida que os fundos crescem, mais capital próprio é necessário para manter essa participação, lembra Schwarzman. "É uma questão de dar confiança aos investidores", diz Olímpio Matarazzo Neto, um dos principais sócios do Pátria. "Queremos aproveitar agora, que a concorrência estrangeira ainda não veio com tudo ao Brasil", comentou.
Segundo Saigh, a parceria dá alcance internacional ao Pátria, que agora passa a poder oferecer os fundos do Blackstone e pode assessorar negócios de fusão que envolvam compra ou venda de empresas no exterior. "Nos tornamos competidores globais e poderemos atuar com destaque nas áreas de mineração, de óleo e gás e no setor agrícola", diz.
O primeiro contato do Blackstone com os sócios do Pátria foi em 1999. Na época, o Blackstone assessorou a venda ao Chase Manhattan Bank do brasileiro Banco Patrimônio, criado nos anos 80 pelos hoje sócios do Pátria e pelo hoje empresário Jair Ribeiro. Mesmo depois da fundação do Pátria eles continuaram a trabalhar juntos. Desde 2004, o Blackstone mantém acordo operacional com o Pátria e a Park Hill, empresa da Blackstone, ajudou a empresa brasileira a levantar um total de US$ 400 milhões em um fundo de private equity. Agora, eles estão levantando mais recursos para um novo fundo, que deverá ter sua captação concluída em 2012, diz Saigh. O Pátria também está criando neste momento um fundo de crédito e outro "long only" (que assume somente posições compradas). Além de fundos multimercado e de private equity, o Pátria também tem fundos de infraestrutura e de investimento no setor imobiliário.
"Gostamos de participar da gestão das empresas nas quais nossos fundos investem", lembra Otavio Castello Branco, outro dos principais sócios do Pátria.
O Blackstone costumava surpreender as pessoas pelo tamanho dos seus negócios. A empresa esteve por trás de 7 das 25 maiores aquisições feitas com dívida na história, segundo a "The Economist". Em 2006, pagou um total de US$ 38,9 bilhões pela Equity Office Properties, a empresa de propriedades do investidor americano Sam Zell. Em 2007, pagou US$ 25,8 bilhões pelos hotéis Hilton. Com a crise, o tamanho dos seus negócios mudou. Em agosto, anunciou a compra da empresa de energia Dynegy US$ 5 bilhões. Foi o maior negócio feito com dívida no ano, mas distante dos valores de antes.
"Os anos de 2006 e 2007 foram exceção, mas conseguimos hoje captar sem problemas US$ 10 bilhões, o que nos dá um poder de aquisição muito grande", afirmou. Ele lembrou que o custo do dinheiro está em recorde de baixa, em 4,5% a 5% depois de taxas, e que os ganhos do negócio podem ser significativos. "Mas o normal do mercado financeiro ainda não está tão normal assim", afirma Schwarzman.
Fundado em 1985 por Schwarzman com um patrimônio de apenas US$ 400 mil, o Blackstone é um dos ícones do capitalismo americano. O capital da empresa foi aberto em 2007 e seu valor de mercado é de aproximadamente US$ 13,5 bilhões.
Nos Estados Unidos, Schwarzman é chamado de "o novo rei de Wall Street". O Blackstone tem um total de US$ 101 bilhões de ativos sob gestão na área de private equity, 8% de aumento em um ano. Outros US$ 31 bilhões são geridos em fundos de fundos de hedge que adotam 18 estratégias diferentes.
Nenhuma das muitas empresas do portfólio de private equity da Blackstone quebrou durante a crise de crédito de 2008. Mas no ano passado o Blackstone refinanciou, reestruturou, reduziu ou ampliou o prazo de vencimento de US$ 52 bilhões em dívida das suas empresas. Neste ano, foi a vez dos hotéis Hilton.

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