sexta-feira, 15 de maio de 2015

Sangria na caderneta é liderada por grande poupador

Sangria na caderneta é liderada por grande poupador | Valor Econômico

Sangria na caderneta é liderada por grande poupador

Empurrados pela queda dos juros básicos da economia, grandes poupadores responderam por cerca de 77% das novas captações na caderneta de poupança nos últimos anos. Agora, com o aperto monetário, eles aparentemente estão liderando os saques.

A alta volatilidade nas captações da caderneta de poupança expõe a fragilidade do atual sistema de crédito direcionado para o setor imobiliário, que capta no curto prazo para fazer financiamentos de longo prazo. Em junho de 2011, começo do governo Dilma Rousseff, quando o Banco Central estava finalizando um ciclo de aperto monetário, os grandes aplicadores respondiam por 59,6% dos depósitos em caderneta de poupança.

Esse grupo inclui os clientes bancários com saldos aplicados a partir de R$ 30 mil. Muitos estavam na caderneta porque essa é uma aplicação tradicional, simples e considerada segura, com a vantagem da isenção de Imposto de Renda sobre ganho de capital.

Pelo dado mais recente, de junho de 2014, os maiores clientes já detinham 66,3% dos saldos das cadernetas. Até 2006, essa proporção girava em torno de 45%.

A partir de agosto de 2011, o Banco Central iniciou um ciclo de relaxamento monetário que levou a taxa básica de juros ao seu menor percentual da história recente, em 7,25% ao ano. Grandes aplicadores migraram para a poupança para se beneficiar da isenção de Imposto de Renda.

Para permitir a queda dos juros básicos e evitar uma migração mais forte de recursos de outras aplicações para a caderneta, o governo mudou a fórmula de remuneração desse investimento - na prática, acabou com o piso de 0,5% mensais para a sua remuneração. Quando os juros básicos caem abaixo de 8,5% ao ano, os poupadores passam a receber 70% da remuneração da Selic.

A mudança pode ter atenuado o movimento de migração de grandes poupadores para a caderneta, mas não o impediu completamente. De junho de 2011 a junho de 2014, os saldos em caderneta de poupança cresceram R$ 236 bilhões, mobilizando mais recursos para o financiamento da habitação. Desse acréscimo, 77% vieram dos clientes com saldo aplicado de pelo menos R$ 30 mil.

O crédito imobiliário cresceu R$ 255 bilhões no período entre junho de 2011 e junho de 2014. O sistema de crédito direcionado vigente no país determina que 65% dos saldos em caderneta de poupança sejam aplicados em crédito imobiliário. Os bancos também captaram recursos com outros instrumentos, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

A tendência, agora, é inversa. A alta de juros básicos está levando a saques da caderneta de poupança, reduzindo o volume de recursos disponível para aplicar em crédito imobiliário.

O Banco Central começou a subir os juros em abril de 2013, mas apenas em fins do ano passado a taxa básica se tornou alta o suficiente para estimular grandes aplicadores a procurar alternativas mais rentáveis do que a caderneta. Um cliente com R$ 30 mil tem boas opções no mercado.

Nos primeiros quatro meses deste ano, os clientes sacaram R$ 29 bilhões da caderneta, dos quais R$ 23,7 bilhões vinculados ao sistema de crédito imobiliário. O restante se refere a cadernetas rurais, com recursos dirigidos ao financiamento agrícola.

Com recursos escassos, o setor imobiliário e bancos que atuam nesse nicho estão pressionando o Banco Central para liberar compulsórios da caderneta de poupança para financiar a habitação.

Uma eventual liberação de compulsórios teria impacto fiscal. Hoje, os recursos retidos no BC são remunerados pelo mesmo índice da poupança, ou seja, 6,17% ao ano mais a taxa referencial. A liberação dos compulsórios obrigaria o Banco Central a recolher o excesso de dinheiro em circulação na economia por meio de operações compromissadas que remuneram com a taxa Selic.

Todo o sistema que capta no curto prazo para emprestar no longo prazo está sujeito ao risco do descasamento entre aplicações. A mudança na fórmula de remuneração, em 2012, acabou com o piso na remuneração e evitou um afluxo mais forte e instável de depósitos. Uma mudança semelhante que se aplicaria quando a taxa Selic sobe a partir de determinado patamar poderia suavizar oscilações na direção contrária, quando clientes sacam recursos.



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