terça-feira, 7 de abril de 2015

Lojas pressionam por redução no aluguel

Lojistas de shoppings e aeroportos abriram negociações para reduzir o valor do aluguel ou obter concessões em contratos com as empresas, na tentativa de reduzir o impacto da desaceleração no consumo em seus resultados. Associações do setor e lojas confirmam as conversas, num ritmo superior em relação aos anos anteriores.

Com a queda na velocidade de vendas nos shoppings, e com o alto volume de inaugurações nos últimos anos, os empreendimentos perderam algum poder de barganha nas negociações com os comerciantes - e começam a dar sinais de que podem rever contratos. Lojas de pequeno porte (satélites) da área de moda e franquias de alimentação encabeçam a lista de varejistas abrindo pedidos para avaliação das condições.

Há dois aspectos principais nas mesas de discussão: redução no percentual sobre as vendas, que determina o valor do aluguel, e revisão, parcelamento ou até cancelamento do 13º aluguel pago pelas lojas no fim de cada ano. O aluguel mensal corresponde a uma taxa que pode variar de 3% a 8% sobre o faturamento da loja, a depender do tamanho da empresa. Em grandes redes, como em magazines, a taxa é menor, cerca de 2%.

Neste momento, entre as empresas em negociações com aeroportos está o grupo International Meal Company (IMC), dono do Viena, que está avaliando seus contratos em terminais do Aeroporto Internacional de Guarulhos. "Estamos em conversas com alguns aeroportos porque o fluxo não está ok [...]. Estamos focados 100% nisso, em ver como fica o fluxo do terminal 1 e do terminal 3 [de Guarulhos]", disse Francisco Javier Gavilán, presidente da IMC, em conferência com analistas, dias atrás.

Perguntado sobre a questão semanas atrás, o até então presidente do GRU Airport, Antonio Miguel Marques (que renunciou ao cargo no dia 1º) disse que "lojistas estão sempre pedindo para rever contratos. Faz parte do nosso dia-a-dia", afirmou. "Quando vemos que há algum pleito que faz sentido, sentamos e revemos alguns pontos".

No segmento de shoppings, a Casa do Pão de Queijo iniciou conversas com empreendimentos, como em Manaus - onde há dez shoppings. "Com os shoppings mais maduros essa conversa está mais difícil, não há espaço para tratar da questão. Com shoppings mais novos, melhorou um pouco. Em uma dessas negociações este ano, até reduziram o aluguel, como percentual das vendas, com queda de um ponto. Mas isso, por três meses", disse Ricardo Bertucci, gerente de expansão da rede.

Pedidos de revisão de acordo são comuns no início de ano, pela queda na demanda neste período, mas há fatores que tornam o cenário diferente em 2015.

Primeiramente, o desaquecimento nas vendas das lojas de menor porte, as satélites, é mais acentuado do que nos anos anteriores, e cresce o número de segmentos afetados pelo desaquecimento. A perda de fôlego fica clara nos números. A BRMalls, maior grupo de shoppings do país, teve alta de 7% na receita em 2014, versus 16% no ano anterior. E a receita aumenta se o aluguel pago pelo lojista sobe - em média, 60% da receita dos shoppings vem da locação. A Abrasce, associação setorial, prevê mercado crescendo neste ano 8%, versus 10% em 2014.

O segundo aspecto é que sem estimativa, a curto prazo, de um retorno a patamares mais altos de expansão, o lojista passa a bater nas portas das superintendências já pedindo alguma reavaliação. "Tem superintendente de shopping que a única coisa que tem feito hoje é responder carta de pedido de renegociação", diz um diretor comercial de gestora de shoppings. "Mas tem que ver o que faz sentido e o que é 'chororô'".

São analisados aspectos como o ritmo de vendas da loja, que é informado para cálculo do aluguel. O dado é comparado com o de outros lojistas do mesmo setor. "Há comerciante que manda carta pedindo renegociação e nem assina. Parece que tirou xerox e enviou para todos os lugares onde tem loja".

Na negociação, os lojistas têm citado o excesso de oferta de shoppings no mercado. Há cidades com dois a três novos empreendimentos abertos nos últimos cinco anos. Se o shopping resistir a negociar, a loja pode ameaçar ir para outro empreendimento (ao custo de ter que quebrar contrato). Estão nessa situação cidades como Ribeirão Preto (SP), Blumenau (SC), Cuiabá (MT) e Vila Velha (ES).

Cálculo de Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, associação dos lojistas, considera que 25 mil novos pontos de venda devem ser ofertados por shoppings para lojistas este ano. Esse número considera aberturas, expansões e a rotatividade natural do setor. "É um cálculo conservador e já é muita loja nova, num período de crédito fraco e inflação alta", disse ele.

Para alguns administradores de empreendimentos, o planejamento dos lojistas deveria considerar os altos e baixos do mercado. Esses gestores argumentam que não é possível rever contratos a cada momento que a curva de crescimento perde velocidade. É parte do jogo colher os frutos na época de vacas gordas e administrar perdas nas fases difíceis, dizem eles.

http://www.valor.com.br/empresas/3994338/lojas-pressionam-por-reducao-no-aluguel

 

 

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