quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Fundos de recebíveis têm redução de novas ofertas

Valor Econômico - São Paulo/SP - BRASIL - 17/08/2011 - 01:02:31

 

Adriana Cotias e Vinícius Pinheiro | De São Paulo

 

Aline Massuca/Valor

 

Ciclo de alta de juros funciona como um inibidor adicional de novas ofertas, avalia Junqueira, da Uqbar

 

Após registrarem um forte crescimento entre 2005 e 2008, período de bonança no mercado de capitais brasileiro, as emissões de fundos de recebíveis patinam e, se seguirem a toada do primeiro semestre, dificilmente mostrarão acréscimos significativos em relação ao ano passado. Mal ensaiou uma reação em 2010, o setor se viu às voltas com o rombo bilionário no PanAmericano e com o pacote de medidas de aperto ao crédito, que fez com que as instituições desacelerassem o passo na originação de novas operações.

De janeiro a junho, as novas emissões estiveram concentradas em poucas operações: foram apenas 16 ofertas, em comparação com 47 captações realizadas no mesmo período do ano passado, pelos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). Em volume, os números deste ano são inflados pelo Caixa BTG Pactual Multisegmentos, com patrimônio de mais de R$ 3 bilhões, fundo criado em abril para limpar o balanço do PanAmericano depois que o BTG passou a dividir o negócio com o banco federal.

Apesar do ritmo mais lento nas novas ofertas, o patrimônio líquido dos fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDC) atingiu no fim do primeiro semestre a importante marca dos R$ 50 bilhões, uma expansão de 33,8% em relação a junho do ano passado, segundo levantamento da consultoria Uqbar para o Valor. O dado desconsidera as carteiras do sistema Petrobras, usadas na gestão do fluxo de caixa da estatal.

 

O crescimento do patrimônio carregado de 2010 se explica pela incursão das empresas de factoring, que têm benefício fiscal ao estruturar seus negócios dentro desses fundos, segundo Pedro Junqueira, sócio da Uqbar. Para se ter uma ideia, na categoria de fundos com recebíveis comerciais, com patrimônio de R$ 9,6 bilhões (34,6% superior a junho de 2010), cerca de R$ 4 bilhões foram originados em companhias de fomento mercantil. Pelo histórico recente, porém, há sinais de exaustão.

Para o segundo semestre, a previsão é de pouco dinamismo. "O mercado está aquém das expectativas. O FIDC chegou num ponto em que não consegue decolar", diz Marcos Wanderley, responsável por produtos de securitização do BTG, um dos principais estruturadores de fundos de recebíveis do mercado brasileiro. Além da combinação PanAmericano com medidas macroprudenciais ter inibido a oferta de crédito no varejo, ele atribui o freio à maior regulamentação do setor que vem pela frente, citando as mudanças nas normas contábeis dos fundos, alteração na forma de provisões e a abertura de informações de créditos acima de R$ 5 mil para a central de risco do Banco Central (BC).

"A ideia é dar mais transparência, aumentando o volume de informações num setor já muito regulado. Mas os agentes se retraem, pois o FIDC é um instrumento relativamente caro. Entre uma emissão ou uma CCB com garantia, os emissores acabam escolhendo essas outras opções, ainda que paguem mais taxa por isso", pondera Wanderley.

Após o ensaio de recuperação em 2010, o mercado de fundos de recebíveis entrou em uma espécie de "inércia" e o que mais se vê agora são emissões de novas séries de fundos já existentes, o que explica o aumento patrimonial, observam os advogados Ricardo Mourão e Jessica Bernstein Heumann, do Velloza & Girotto.

Os bancos médios - que tradicionalmente recorrem à estrutura dos FIDC para fazer a cessão de seus créditos e obter recursos para realizar novas operações - enfrentam uma maior resistência dos investidores, segundo Leonardo Calixto, sócio da Empírica Investimentos. "Diante do movimento de consolidação entre os bancos de nicho, o investidor questiona a capacidade da instituição de continuar originando recebíveis", afirma.

Ele também credita a atual entressafra ao menor interesse das instituições em securitizar os recebíveis. "Esse mercado costuma acompanhar a necessidade de quem origina os créditos."

No segmento de recebíveis comerciais, a atividade praticamente parou neste ano. De dezembro para cá, houve uma expansão de apenas 0,45% no patrimônio dos fundos que incluem as empresas de factoring. No bolo geral, o recente ciclo de alta de juros funciona como um inibidor adicional de novas ofertas, acrescenta Junqueira, da Uqbar.

Quem compra cotas de FIDC considera relevante o tamanho que essa indústria alcançou em cinco anos de atividade mais intensa. "Já começa a haver certa escala, o que permite a comparação de fundos da mesma categoria", diz Arturo Profili, sócio da Capitânia, gestora que investe em operações de renda fixa estruturadas e que tem em carteira 24 transações e um patrimônio de R$ 500 milhões. O especialista se mostra otimista com o setor e estima que esse é um mercado para rodar a um patrimônio de R$ 100 bilhões num horizonte de dois anos.

 

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