quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Após crise, título privado volta a atrair grandes investidores

DCI - SP - FINANÇAS - 02/12/2009

SÃO PAULO - O fim da crise financeira no Brasil e do receio generalizado provocado por ela, aliado à expectativa de crescimento da economia, do emprego e da renda em 2010, estão tirando investidores dos mercados com menor risco e rentabilidade - como títulos públicos - para operações mais arriscadas, como as operações em dívidas estruturadas.

O estoque de Certificados de Recibos Imobiliários (CRI), por exemplo, saiu de R$ 5,925 bilhões em setembro do ano passado para R$ 7,949 bilhões em janeiro e já registrou R$ 9,885 bilhões no dia 1º de dezembro, segundo a Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip). O estoque de Cédulas de Crédito Bancário (CCB) saltou dos R$ 17,869 bilhões em setembro de 2008 para R$ 20,374 bilhões em janeiro, caiu para a casa dos R$ 17 bilhões em março, mas recuperou-se e registrou R$ 19,030 bilhões no início do mês. A captação dos Fundos de Direitos Creditórios (FDICs), de acordo com a Associação de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), estava em R$ 1,904 bilhão em setembro do ano passado, subiu para R$ 2,354 bilhões em janeiro e saltou para R$ 8,113 bilhões em outubro.

Para o analista Alex Agostini, da Austing Rating, esse mercado todo deve valorizar-se, mas é possível que a procura por FDICs seja ainda maior que a dos outros ativos porque o recurso é normalmente usado por empresas de todos os setores como instrumento de captação de recursos, entre médias e grandes, que devem aumentar investimentos em 2010.

"Essas operações têm crescido muito desde 2003 principalmente porque muitas das empresas que buscam o recurso não estão preparadas para entrar na Bolsa de Valores. Haverá também um aumento da participação de bancos médios e pequenos que trabalham com crédito consignado", estima.

Mesmo em cenário otimista, não é possível, segundo o analista, prever taxas médias de rentabilidade porque há variações na premiação de acordo com a empresa que busca recursos por meio do instrumento. "Se, por exemplo, uma empresa tem ativos que dão garantia ao investidor e seu grau de risco é menor, a rentabilidade do investimento também é menor", explica.

Para o professor de Finanças da Faculdade Instituto de Administração (FIA) Bolívar Godinho, o crescimento na busca por esse tipo de investimento se sustentará na estabilidade econômica e também no perfil desses investidores. "Os investidores desse perfil são mais qualificados. Somente pessoas físicas com mais de R$ 300 mil no mercado financeiro podem investir nesses fundos de baixa liquidez. Então quem compra pensa no longo prazo, o que pode provocar uma tendência mais duradoura no aumento desse mercado", afirma. O crescimento do setor imobiliário, puxado por novas construções, o aumento da procura por aluguel e pelo programa "Minha Casa, Minha Vida" do governo federal, são motivos da elevação do estoque de CRIs, segundo Agostini. "Mas o CRI é também um instrumento de captação mais barato e menos burocrático do que, por exemplo, conseguir empréstimos no BNDES. Com o CRI, as empresas reduzem custos e captam volumes maiores de recursos do que em financiamentos."

Segundo ele, estes investidores, normalmente com alto poder de barganha, se anteciparam às tendências de construção de moradias e hotéis, que devem se intensificar no ano eleitoral e também por conta da Copa do Mundo de 2014. "A expectativa de maior renda e emprego está aquecendo o setor imobiliário, também com o aumento dos prazos de financiamento de imóveis. E há também a previsão de mais investimentos no setor hoteleiro para suprir a demanda gerada pela Copa e pela Olimpíada. A estrutura de hoje não dá conta."

Para o professor da FIA, a queda da taxa básica de juros e também a isenção de Imposto de Renda sobre o rendimento do ativo pesam na decisão de investimento. "Para pessoa física o CRI é isento do IR, mas isso não significa maior retorno. O investidor calcula os riscos e taxa de rentabilidade antes da escolha, mas isso tem um peso considerável."

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