quinta-feira, 12 de março de 2015

O boom dos hotéis

O Globo, 11/mar

Com previsão de superar a meta de chegar a 48 mil quartos até as Olimpíadas, setor hoteleiro busca estratégias para manter novas unidades ocupadas mesmo após os Jogos. O temor de que o Rio não conseguisse atender à demanda por hospedagem nas Olimpíadas parece superado. Agora o debate em torno da rede hoteleira carioca recai sobre outra preocupação: diante do aumento da oferta de acomodações, o desafio é como mantê-las ocupadas depois dos Jogos. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (ABIH-RJ) afirma que, só este ano, mais de 15 mil novos quartos - 10.500 só na Barra da Tijuca - ficarão prontos na cidade. Atualmente, a cidade dispõe de cerca de 34 mil.

 

Até o fim do ano, deverá ser ultrapassada a meta de 48 mil acomodações para os Jogos - contra 31,7 mil em 2010, segundo a agência Rio Negócios. E a previsão é que o Rio tenha 51,1 mil quartos no ano que vem. Para representantes do setor, o número representa uma nova etapa na organização dos Jogos, como aquecer o calendário de eventos e ampliar a atração de turistas, de forma a evitar que os quartos fiquem vazios.

 

Como ponto favorável, diz Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ, é grande o potencial para aumentar o número de visitantes. Ele lembra que o Brasil recebe, por ano, cerca de seis milhões de turistas internacionais (34% deles no Rio), enquanto só Paris, na França, contabiliza 23 milhões. Segundo Lopes, aqui são necessários, sobretudo, maiores investimento na captação de visitantes em mercados como o americano, o europeu, o asiático e o árabe.

 

Novo centro de convenções

 

Para o período pós-Jogos, diz ele, já há esforços em andamento. Lopes cita a troca de experiência do setor com representantes de outras sedes olímpicas, como Barcelona e Sydney. Destaca que o Rio Convention & Visitors Bureau e a associação buscam espaço para um novo centro de convenções na Zona Sul - que poderia ficar no terreno do antigo Canecão ou nas proximidades do Forte do Leme. E, com a consolidação da Barra como novo polo hoteleiro, Lopes enumera iniciativas de divulgação do bairro, que receberá grandes parte das instalações das Olimpíadas:

 

- Embora seja uma região com uma diversidade de restaurantes, shoppings e praias que os cariocas conhecem, a Barra ainda é uma ilustre desconhecida do mundo, se comparada com Copacabana e Ipanema. É um desafio trabalhar a imagem do Rio, mas também a da Barra. Com esse objetivo, criamos o Fórum de Marketing da Barra e, recentemente, foi publicado um guia sobre o bairro.

 

Apesar de mais distante de pontos turísticos como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, a Barra é mesmo a aposta de grandes redes internacionais para oferecer hospedagem de luxo na região. É o caso do Hilton Hotel Collection, na Avenida Abelardo Bueno, e do Grand Hyatt Residences, na Avenida Sernambetiba. Novos empreendimentos da rede Windsor também terão o bairro como endereço. O grupo - que já tem o Windsor Barra - inaugura até as Olimpíadas mais três hotéis na região (Windsor Oceânico, Windsor Tower e Windsor Marapendi, com um total de 1.300 quartos), além de um centro de convenções com 25 mil metros quadrados de salões.

 

- O que nos motivou foi o fato de acreditarmos muito no potencial do Rio em todos os tipos de turismo. Os novos empreendimentos já estavam nos nossos planos, independentemente das Olimpíadas. Mas nossa principal aposta é na vocação do Rio para o turismo de negócios, do qual São Paulo ainda fica com uma fatia muito maior - afirma o gerente de Marketing da rede, Paulo Marcos Monteiro Ribeiro.

 

Alexandre Sampaio, vice-presidente de Hotéis do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio), vê a cidade dividida em três polos hoteleiros. A Barra, diz ele, concentrará o turismo de eventos; a Zona Sul, o de lazer; e o Centro, o de negócios. Ele enxerga o atual cenário para o setor, no entanto, de forma mais pessimista diante da conjuntura nacional. E aponta como motivos vários fatores: baixo crescimento do PIB nacional; desempenho ruim de projetos que impulsionariam a economia fluminense, como o Comperj; aumento do custo da energia elétrica; e possíveis reajustes de impostos para o setor, entre outros.

 

- Vamos até superar a expectativa em termos de número de quartos e hotéis para 2016. Mas isso nos joga numa realidade de curto prazo problemática, num momento econômico ruim. Corremos o risco, por exemplo, em caso de superoferta, de queda dos valores das tarifas após as Olimpíadas - diz.

 

Pela projeção da Rio Negócios, dos 51,1 mil quartos que devem estar disponíveis até os Jogos, 36,9 mil serão em hotéis e 14,1 mil, em aparts, albergues, pousadas e motéis convertidos. O crescimento entre 2010 e 2016 representará 70 novos hotéis, sete deles de cinco estrelas e 25 de quatro estrelas.

 

Mas, mesmo com esse aumento da oferta, afirma o subsecretário municipal de Turismo, Philipe Campello, a meta é, após os Jogos, manter a taxa de ocupação das vagas no Rio acima dos 70% - em 2007, era de 62,9%, chegou a 79% em 2011 e, em 2014, já com uma capacidade instalada maior, foi de 72,4%.

 

Mais eventos para a cidade

 

Além disso, o objetivo é seguir aumentando o número de turistas na cidade. Nos últimos anos, a quantidade de estrangeiros que visitaram o Rio passou de 1,2 milhão em 2009 para 1,9 milhão em 2014 (os dados ainda não estão fechados). Já os visitantes nacionais passaram de 5,9 milhões para sete milhões no mesmo período. E, embora Campello ressalte que ainda é cedo para se ter estimativas seguras em relação a 2016, ele acredita que as Olimpíadas possam atrair, no mês dos Jogos (agosto), até 800 mil turistas à cidade.

 

Para o período posterior, diz o subsecretário, a estratégia é trabalhar na captação de eventos (como congressos e feiras) para a cidade entre 2017 e 2020:

 

- A Copa do Mundo, que atraiu 886 mil turistas à cidade, foi além até das expectativas. Nas Olimpíadas, vamos viver momento parecido. É uma oportunidade única de mostrar o Rio, bonito e competente na realização de grandes eventos.

 

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