quarta-feira, 12 de maio de 2010

Armínio Fraga entra no setor imobiliário

Valor - 11.05.2010

Foi com ar de suspense que a mídia foi convocada para um anúncio de Marcelo Odebrecht na tarde de ontem. Cerca de vinte minutos depois do horário previsto, Marcelo surge acompanhado de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central. Posam, juntos, para várias fotos e logo anunciam: tornaram-se sócios. A Gávea Investimentos, de Fraga, comprou 14,5% da área imobiliária do grupo Odebrecht, que investe da baixíssima à alta renda.

Conhecidos há muito tempo, começaram a conversar sobre a parceria em outubro. "Queríamos um sócio estratégico que pudesse agregar e nos dar acesso a investidores", disse Marcelo. Entusiasmado com o mercado imobiliário - e com os detalhes, ainda pouco familiares, do segmento de baixa renda - Fraga defende a parceria como a porta de entrada em um setor "ainda carente e com grande potencial de crescimento". A Gávea terá três de oito assentos no conselho de administração.

O valor do negócio não foi revelado, mas a aquisição representa o maior investimento da companhia - que tem, hoje, sob sua gestão um patrimônio de R$ 10,2 bilhões - em negócios de longo prazo. O investimento faz parte do terceiro fundo de private equity da Gávea, de US$ 1,2 bilhão - que no auge da crise investiu em Cosan e Lojas Americanas e ainda tem mais dois ou três investimentos perto de serem fechados. Segundo Fraga, a empresa se prepara para a captação de um novo fundo ainda este ano. Há pelo menos dois fundos, voltados ao setor imobiliário, em fase final de captação: Prosperitas e da americana Tishman Speyer.

A sociedade marca a entrada direta do fundo no setor. Mais do que isso: coloca a Gávea na rota dos empreendimentos populares e do programa Minha Casa, Minha Vida. Debaixo da Odebrecht Realizações Imobiliárias está a Bairro Novo - empresa que nasceu de uma parceria com a Gafisa, que saiu do negócio após a compra da Tenda - que representa cerca de 50% do negócio imobiliário. "Nossa vocação é ser um minoritário engajado", disse Fraga, que já teve participações em imobiliárias listadas.

A abertura de capital, um segundo passo mais provável após uma associação como essas - até como porta de saída para o fundo - não está descartada. "A empresa não vê o IPO como um fim em si mesmo, mas como parte do crescimento", afirmou Marcelo.

Os fundos nacionais e estrangeiros estão aumentando seus aportes no setor. Os dois caminhos mais comuns são, via bolsa, ou nos projetos, através das SPE's (Sociedade de Propósito Específico), montadas para cada empreendimento. A participação direta no capital da empresa é um movimento recente. Outro fundo de private equity que participa diretamente da companhia é o americano Golden Tree, sócio da Yuni.

Com receita de R$ 400 milhões em 2009, a Odebrecht Realizações representa apenas 1% do grupo. As metas de crescimento são ousadas. Para este ano, pretende aumentar os lançamentos em 260%, chegando a R$ 2,8 bilhões e alcançar R$ 2,5 bilhões em vendas, alta de 130% sobre 2009. Se alcançar esses números, a receita deve saltar para pouco mais de R$ 1 bilhão.

No segmento popular, a Odebrecht foca atuação no público de zero a três salários mínimos, a base do Minha Casa, Minha Vida. Conta com a parceria do governo em várias esferas, além de processos industriais e construção rápida, para conseguir ser rentável nesse mercado. "Há desafios, como escala, domínio da cadeia produtiva, capacidade de execução e industrialização", reconhece Marcelo.

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