segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Setin retoma marca após experiência frustrada na Klabin

Valor - 18.01.2010

Para Antônio Setin, uma empresa fechada tem vantagens: "O mercado cobra muito e muitas vezes cobra errado" .

Foram dois anos intensos, para dizer o mínimo. Nesse curto período, dentro de uma carreira de mais de trinta anos, Antônio Setin passou de dono de empresa a executivo e acionista de S.A e, agora, volta ao posto de dono de empresa. Não bastasse a diferença entre comandar o próprio negócio e ser diretor de uma companhia aberta, Setin assistiu de perto ao último capítulo da Klabin Segall, que não resistiu ao alto endividamento e acabou sendo vendida e incorporada pela Agre. Valiosa, a experiência adquirida vai guiar a nova fase.

No fim de 2007, Antônio Setin vendeu a empresa de 28 anos que carregava seu sobrenome por R$ 200 milhões - metade em dinheiro e metade em ações - para uma companhia promissora e uma carteira recheada de bons projetos, a Klabin Segall. Em troca de 9% das ações, ganhou cadeira no conselho e o cargo de diretor de novos negócios.

Um ano depois, precisando urgentemente de dinheiro em caixa e com uma crise mundial pela frente, a Klabin Segall já estava na berlinda - com uma dívida de mais de R$ 600 milhões, superior ao seu patrimônio líquido. Depois da venda da Klabin Segall para a Veremonte, do espanhol Enrique Bañuelos, e de um longo processo de renegociação das dívidas, o controle acionário foi passado ao novo grupo e Antônio Setin, além dos fundadores Oscar e Sérgio Segall, deixaram o negócio.

Os 9% que Setin detinha foram vendidos no mercado a R$ 3,30 por ação - quando ele entrou, o papel estava cotado a R$ 18,90 e a ideia é que se valorizasse. Mas na negociação com a Veremonte, o empresário conseguiu reaver o nome Setin e o mais importante: saiu sem a cláusula que costuma amarrar os empresários nesse tipo de situação e os impede de continuar no negócio. "Tenho uma relação muito boa com a Agre", procura enfatizar.

De volta ao papel de empresário, assume a Setin Empreendimentos - que manteve paralelamente alguns ativos, como terrenos e hotéis, que não haviam entrado no pacote de venda, além de uma pequena estrutura. A empresa vai focar no mercado residencial, com imóveis entre R$ 300 mil e R$ 700 mil, e pretende lançar este ano cinco empreendimentos que devem totalizar R$ 850 milhões (valor geral de vendas) em projetos, a maioria em parceria com outras incorporadoras.

"Quero retomar os negócios e fazer um novo desenho da empresa", afirma Antônio Setin, que deixará de atuar nas áreas de construção e vendas de imóveis, segmentos nos quais já operava e que foram no pacote para a Klabin. "Queremos ser uma incorporadora pura, vamos contratar o que podemos e fazer direito o que sabemos", diz.

O primeiro empreendimento da nova fase fica na avenida Francisco Matarazzo, na zona Oeste da capital paulista, em parceria com a Helbor e terá cinco torres - quatro residenciais e uma comercial. O terreno pertencia a um grupo de cinco empresas, foi comprado pela Setin, que depois revendeu 50% para a Helbor por R$ 50 milhões.

Na nova empreitada, Setin não pretende entrar na baixa renda e no programa Minha Casa, Minha Vida, por tratar-se de um segmento que exige escala. O foco da empresa é o mercado residencial, mas a ideia é atuar também em salas comerciais e hotelaria. Em 1996, Antônio Setin trouxe para o Brasil, através de uma parceria com a francesa Accor, as marcas Mercure, Ibis e Formula 1. Em cinco anos, construiu 4 mil quartos.

Depois de passar por uma estrutura grande, de empresa aberta que vive com a constante cobrança de investidores, Setin diz ver vantagens em um negócio de menor porte. Na sua opinião, o setor de construção residencial de média e alta tem uma vantagem. "É uma empresa nova a cada negócio e é possível ter acesso ao mesmo custo de construção e à mesma empresa de vendas de uma grande", diz. Segundo Setin, a agilidade de uma incorporadora pequena é um diferencial. "Muitas vezes, o dono de terreno quer falar com o dono da empresa", acrescenta.

Sobre as dificuldades que enfrentou na Klabin Segall, o processo de renegociação das dívidas com os credores, o empresário diz que hoje teme a euforia e o excesso de alavancagem. "Também descobri que o mercado e os investidores cobram muito e, muitas vezes, cobram errado e você deixa de fazer o que sabe para atender ao que te pedem."

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