quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Incorporadoras Devem Enfrentar Novo Ano de Retração

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Incorporadoras devem enfrentar novo ano de retração

O setor de incorporação começa 2016 diante de um cenário ainda desafiador em relação à crédito imobiliário, às incertezas quanto aos rumos da política e à perspectiva de nova retração do Produto Interno Bruto (PIB). O ambiente se reflete na demanda retraída por imóveis e em patamares elevados de distratos e estoques. Há pouco estímulo para ousadia na tomada de decisão de lançamentos pelas incorporadoras. A melhor das hipóteses, segundo analistas ouvidos pelo Valor, é que o volume de lançamentos e vendas fique semelhante ao de 2015, mas a avaliação mais recorrente é que outra retração poderá ocorrer.

"O ano de 2016 será muito difícil. Vamos tentar achar alternativas para escoar os estoques", afirma o presidente do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, Claudio Bernardes. Na cidade de São Paulo - maior mercado imobiliário do país -, o volume de lançamentos e vendas de unidades novas residenciais recuou, em 2015, para os mais baixos níveis em mais de uma década, segundo o Secovi-SP, ficando inferiores a 2004, quando marcos regulatórios do setor, como o patrimônio de afetação, foram definidos.

"Os juros aumentaram, a oferta de crédito diminuiu, e há falta de confiança do consumidor", diz o presidente do Secovi-SP.

Na avaliação de Bernardes, o setor pode "começar a andar, no fim de 2016, se houver uma solução razoável para o impasse político e institucional". O Sindicato da Habitação estima que, no consolidado do ano passado, foram lançadas 21 mil unidades na capital paulista, 38% abaixo do volume de 2014 e vendidas 17,3 mil unidades, com retração de 20%. Para efeito de comparação, em 2004, os lançamentos somaram 22.550 unidades, e as vendas atingiram 20.183 unidades.

Considerando-se o desempenho nacional e somente das incorporadoras de capital aberto, 2015 foi o quarto ano consecutivo de encolhimento do setor. A piora das condições de crédito - uma das principais razões para a retração do setor, no ano passado, e para que a perspectiva de queda de distratos ficasse mais distante -, começou em maio. Já na largada de 2016, o crédito está mais caro e restrito do que no início de 2015.

De janeiro a outubro, o volume de vendas de imóveis superou o de lançamentos, segundo o índice Abrainc-Fipe

O volume consolidado de entregas de imóveis tende a ser menor do que no ano passado, o que pode contribuir para a redução absoluta dos distratos. Mas a participação relativa dos cancelamentos de vendas no total dos projetos continuará alta, tanto pela negação de crédito por bancos para uma parcela dos compradores, no repasse, quanto pela decisão de uma fatia dos clientes de não se manter endividados neste cenário de baixa confiança frente ao maior risco de desemprego.

De janeiro a outubro, o volume de vendas de imóveis superou o de lançamentos, conforme dados do índice Abrainc-Fipe. Nos dez meses, foram lançadas 45,2 mil unidades e vendidas 89,4 mil. O índice Abrainc-Fipe foi desenvolvido pela Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e considera informações de 18 incorporadoras.

Nas reuniões públicas realizadas no fim do ano, o tom predominante das incorporadoras, ao comentar sobre lançamentos, era de cautela, e as empresas evitavam projeções. A busca de redução de estoques continua a ser o foco, assim como a revenda das unidades distratadas e a tentativa de evitar novos cancelamentos, por meio de medidas como a oferta de financiamento direto.

A PDG Realty - que possuía a maior alavacangem do setor no fim de setembro, com relação dívida líquida sobre patrimônio líquido de 127% no fim de setembro - informou que voltará a lançar projetos quando o mercado permitir. A Rossi Residencial sinalizou intenção de retomada de lançamentos no fim deste ano ou no início de 2017. A Tecnisa divulgou que será uma empresa de R$ 1 bilhão por ano no próximo ciclo de lançamentos, mas deixou claro que esse tamanho não será alcançado em 2016.

Em meados de dezembro, o diretor financeiro e de relações com investidores da EZTec, Emilio Fugazza, disse que a companhia só voltaria a lançar empreendimentos "com mais intensidade" em dois anos. Segundo Fugazza, há projetos para lançamentos, em 2016, superiores aos de 2015, se a empresa reduzir estoques e se houver estabilidade política. Para ter ritmo maior de novos projetos, a EZTec precisa vender, trimestralmente, de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões em estoques.

A Cyrela informou que seu tamanho tem de se adaptar às dimensões do mercado, mas que o volume de lançamentos deve ser mantido em São Paulo. A Even afirmou que vai buscar equilíbrio entre lançamentos e venda de remanescentes, mas que isso ainda não ocorrerá em 2016. Não há expectativa, na Even, que o ano seja de recuperação do setor.

A Helbor estima lançar de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão em 2016 (incluindo a parte dos sócios nos empreendimentos), ante os quase R$ 500 milhões que esperava para o consolidado do ano passado, mas não tem projeção oficial e depende do mercado para de fato apresentar os empreendimentos. Também sem meta oficial, a Gafisa divulgou que lançará de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão no ano, somente na divisão de mesmo nome, sem incluir a Tenda. Já a MRV Engenharia avalia que lançamentos e vendas ficarão em linha com os de 2015.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Rodobens Negócios Imobiliários, Flavio Vidigal De Cápua, a companhia só vai lançar produtos se tiver "boa segurança do índice de comercialização e de que haverá boa aceitação". "Temos capacidade para R$ 1 bilhão por ano, mas não adianta lançar sem ter mercado", diz. A Rodobens não chegará a esse patamar e 2016, quando deve lançar mais produtos de loteamentos do que de incorporação.

Para reforçar a geração de caixa, outra prioridade do setor, algumas companhias apostam também na venda de ativos, como terrenos e participações em projetos. PDG tem, em curso, negociações para comercializar a empresa de shopping centers REP. Entre os ativos da Rossi à venda, está a loteadora EntreVerdes. No terceiro trimestre, a Tecnisa reduziu sua participação no bairro planejado Jardim das Perdizes, e a PDG saiu do projeto.

 

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